<p>Olham com receio para quem entra pela porta e mostram-se atentos a movimentações estranhas nas ruas. Os comerciantes da zona histórica de Torres Vedras trabalham diariamente "com o coração nas mãos", temendo que "sustos recentes" voltem a ocorrer.</p>
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Dificilmente António Miranda esquecerá o final de tarde do dia 17 de Fevereiro. As marcas que ostenta na cabeça e o rosto massacrado da filha Joana fazem-no lembrar diariamente do "tormento" passado dentro da sua ourivesaria, localizada na Rua Serpa Pinto, em pleno centro histórico.
Seriam 18.30 horas e António encontrava-se no piso de cima a arranjar um relógio de parede. Ouviu gritos da filha, que se encontrava sozinha na ourivesaria, e pensando que "lhe tida dado qualquer coisa", correu escadas abaixo. Entrou no espaço, viu um homem "a dar pontapés" no rosto de Joana e atirou-se a ele.
"Ele tinha uma arma e só dizia pára, pára", recorda António, adiantando que um outro homem se encontrava a "roubar o ouro". Na luta, o empresário escorrega e é atingido por um martelo na cabeça, "por várias vezes". Depois não se lembra de mais nada.
Joana, a filha de 24 anos, também pouco se recorda. "Deram-me pontapés e murros no nariz e depois perdi os sentidos. Só me lembro de acordar na rua com as ambulâncias. Não me lembro de mais nada", afiança enquanto mostra as marcas bem visíveis no rosto.
As feridas obrigaram António a ter as portas da ourivesaria encerradas durante uma semana. "Quando abri a loja e nos primeiros dias, percorria o espaço a ver se estava alguém" diz o empresário garantindo ter prejuízos de "muitos milhares de euros". Refere ainda que os dois assaltantes "não falavam bem português" e que "sabiam perfeitamente o que queriam e onde estava".
Afiançando que hoje em dia se sente "mais tranquilo", o empresário diz que o policiamento na zona histórica aumentou depois da sua ourivesaria ter sido assaltada. Conta que a 22 de Dezembro, durante a noite, lhe cortaram a grade da porta, desligaram os alarmes e levaram vários objectos em ouro.
"O problema não está no policiamento mas nas leis, porque eles são detidos e ainda saem do tribunal primeiro que os policias", frisa o empresário, admitindo que a existência de mais polícias nas ruas da cidade "deixa as pessoas mais seguras".
A escassos metros, na rua Almirante Gago Coutinho, Nuno Henriques Nunes continua a fazer contas à vida. Há um ano, a sua loja de pronto-a-vestir "Top 24", foi assaltada, mas a mercadoria furtada acabaria por ser recuperada pela PSP.
O mesmo não aconteceu agora. Uma semana antes do assalto à ourivesaria de António Miranda, e durante a noite, o vidro da porta do espaço foi partido e "mesmo com o alarme a tocar levaram a mercadoria que quiseram".
Com prejuízos avultados e os seguros "a demorarem a pagar", Nuno garante que diariamente abre a porta do estabelecimento "com o coração nas mãos", afinal "nunca se sabe o que pode acontecer".
Admite sentir-se mais seguro agora "porque se vê mais policias a passarem por aqui", mas lembra que "enquanto não mudarem as leis, vai continuar a haver esta criminalidade". "Eles têm uma ideia de impunidade porque vão a tribunal e são logo soltos", refere, defendendo "um combate mais sério" ao crime.