A população da Cadaveira, em Águeda, terá a partir deste sábado mais condições para se defender dos incêndios florestais.
Corpo do artigo
A área florestal a perder de vista faz os habitantes da Cadaveira, em Águeda, temerem todos os verões que um incêndio se aproxime das suas habitações. Até porque já não sabem quantos sustos apanharam. Mas, a partir de hoje, o lugar da freguesia de Valongo do Vouga integra o programa nacional "Aldeia segura, pessoas seguras". E vai mais longe: com o investimento das autarquias locais, a Cadaveira passa a estar dotada de três bocas de incêndio para que a população se possa defender com meios próprios.
São apenas 16 os que vivem na Cadaveira. Nem uma dezena de casas habitáveis existe e a povoação mais próxima está a dois quilómetros, com acesso apenas por estradas florestais. Isolados, não há verão em que os moradores não estejam em sobressalto. "Durmo, mas nunca sossegado. Tenho de estar à defesa, a pensar se vem um fogo. Está-se sempre a pensar o pior", conta Jorge, um morador que já viu parte da aldeia tomada pelas chamas, em 1972, quando uma mulher morreu carbonizada no interior da própria casa.
Ponto de abrigo
Na Cadaveira, foram feitas ações de sensibilização junto da população, instalada sinalética nas ruas e estipulado um ponto de encontro - no centro e mais alto ponto do lugar, onde dificilmente chegarão chamas. "É importante que as pessoas se juntem todas e que não tentem fugir cada uma para seu lado. Foi-lhes distribuído, também, um saco onde devem colocar a medicação, por exemplo, caso haja necessidade de evacuação da aldeia", explica Vítor Silva, coordenador municipal da Proteção Civil.
À parte do projeto "Aldeia segura", a Câmara de Águeda e a Junta de Valongo do Vouga foram mais longe. "Instalámos três carretéis, bocas de incêndio, como meio de autodefesa. Se um incêndio perto se propagar para aqui, as pessoas têm meios de apagar logo esse pequeno foco, antes que se torne grande", adianta Jorge Almeida, presidente da Câmara. "Também queremos alargar os estradões de segurança, aqui à volta", sublinha Filipe Falcão, presidente da Junta.
Hernâni Silva é o oficial de segurança, figura que funciona como representante dos moradores, e é ele quem tem a chave dos carretéis. "Se houver um problema qualquer, é comigo que as autoridades comunicam. E tenho um megafone, para ir a todas as casas avisar as pessoas que se devem deslocar para o ponto de abrigo", explica. Hoje, na inauguração do projeto, será feito um simulacro com toda a população.
Cem moradores voluntários prontos
Normalmente muito fustigado por incêndios florestais, o concelho de Águeda tem vindo a apostar em estratégias de prevenção e de combate a fogos. E, nelas, a par dos bombeiros e da Proteção Civil, a população tem um papel fundamental. "Em Belezaima, Castanheira, Préstimo e Valongo temos Unidades Locais de Proteção Civil, compostas por quase 100 moradores voluntários. E contam com equipamentos de combate", explica Jorge Almeida, presidente da Câmara.
Segundo o edil, a título de exemplo, "só a unidade de Belezaima, Castanheira e Agadão tem 12 carros de incêndio, como os dos bombeiros, só que pintados de cor de laranja". "Estão equipados com rede de comunicações SIRESP, que a Câmara comprou e licenciou. E os voluntários todos receberam formação dos bombeiros", realça o edil.
Segurança
2232 aldeias do norte ao sul integram o programa "Aldeia segura, pessoas seguras". Destas, 2087 têm um oficial de segurança local, papel que na Cadaveira é desempenhado voluntariamente por Hernâni Silva.
1343 locais de abrigo (ao ar livre) e 1321 locais de refúgio (espaço fechado) estão sinalizados nas aldeias que integram o projeto. Alcafaz, em Águeda, foi a primeira e serviu como modelo, em 2018.