Na vindima de 2025, a Região Demarcada do Douro vai transformar 75 mil pipas de mosto em vinho do Porto. É o terceiro grande corte nos últimos três anos, depois das 90 mil pipas aprovadas em 2024, 104 mil em 2023 e 116 mil em 2022.
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Tendo em conta que cada pipa daquele vinho é paga ao viticultor, em média, a mil euros, os produtores de uvas perderam 41 milhões de euros num triénio, 15 milhões serão este ano.
A decisão do terceiro corte consecutivo no chamado benefício foi tomada em reunião do Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), realizada ontem no Museu do Douro, na Régua. O encontro entre as duas profissões da região, produção e comércio, em que se decide e anuncia o comunicado de vindima, é sempre o mais aguardado do ano pelos viticultores, já que é no benefício que têm a principal fonte de rendimento.
O benefício é o quantitativo de mosto que pode ser destinado à produção de vinho do Porto em cada colheita. À partida para as negociações, o comércio, através, nomeadamente da Associação de Empresas de Vinho do Porto, propôs reduzir o benefício para 68 mil pipas. A produção bateu-se para, pelo menos, manter as 90 mil pipas aprovadas no ano passado.
Decisão "razoável e consensual"
À saída da reunião de ontem, o presidente do IVDP, Gilberto Igrejas, enalteceu a “decisão unânime” sobre a quantidade de mosto a beneficiar com aguardente vínica para a vindima de 2025 e que foi fixada em “75 mil pipas” (550 litros cada). Igrejas sublinhou que se trata de “um sinal de responsabilidade para a região” demarcada.
O vice-presidente do conselho interprofissional indicado pelo comércio, António Filipe, considerou que “foi importante para a região ter-se conseguido chegar a uma decisão por unanimidade”. Enfatizou que demonstra, de “uma forma clara”, que todos estão “unidos no propósito de tentar resolver a situação de dificuldade que a lavoura duriense vive”. O valor de 75 mil pipas, “razoável e consensual”, resulta, segundo António Filipe, das “intenções de compra que os associados manifestaram” e da “necessidade de serem escoados os stocks de vinho do Porto relativos às produções de anos anteriores”.
Adquirir pipas em stock
Da parte da produção, Celeste Marques reconheceu que o quantitativo aprovado foi “o possível” e que resultou de “muita negociação, debate e pedidos de solidariedade”.
Para o entendimento, também foi importante o “compromisso do comércio de adquirir 8500 pipas que estavam em stock relativas à vindima do ano passado e que ficaram por vender”, explicou ainda. O plano de apoio à viticultura duriense que o Governo está a preparar, bem como o compromisso de criação de um grupo de trabalho para estudar a produção de vinho do Porto com aguardente regional, pesaram, igualmente, na decisão dos representantes dos viticultores.
Medidas acalmam protesto dos viticultores
A contestação a mais um corte na principal fonte de rendimento dos viticultores está a ser amenizada pelo plano de ação que o Ministério da Agricultura está a preparar para ajudar o Douro e que deverá ser anunciado em breve. “Também isso ajudou a que o quadro de unanimidade pudesse chegar a este ponto”, sublinhou Gilberto Igrejas, na medida em que “há um conjunto de medidas que foram propostas e que foram muito bem acolhidas pelo conselho interprofissional”. Destaca-se a “ajuda direta ao produtor de 50 cêntimos por quilo de uva” destinada à produção de vinho para destilação.