Os mais jovens não aderem à Marcha Gualteriana e os mais velhos afastaram-se após a pandemia com receio de contágio.
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Só faltam três semanas para as Festas Gualterianas, em Guimarães, mas a montagem do desfile tem muito caminho para fazer, apesar da azáfama dos últimos dias. O trabalho, que arrancou em abril para sair à rua na primeira segunda-feira de agosto, seria menos complicado se houvesse mais voluntários. José Pontes, de 68 anos, e Salvador Silva, de 73, presidente e desenhador da Casa da Marcha, queixam-se da falta de "mãos para ajudar". Os dois anos em que o desfile não se realizou, por razões sanitárias, as doenças de alguns dos elementos, quase todos já com idade avançada, e o medo de contraírem a infeção afastaram muitos.
Salvador Silva, que colabora na montagem da Marcha Gualteriana desde 1966, lembra-se do tempo em que "era preciso conhecer alguém para entrar". Esta disponibilidade das pessoas para ajudarem foi esmorecendo com os anos, mas José Pontes, presidente da Associação Artística da Casa da Marcha, afirma que "em 2019, no último ano antes da pandemia, ainda tínhamos muita gente". O problema "é que a maior parte das pessoas que trabalham nisto já têm alguma idade, ficaram doentes, outros, apesar de serem velhos, têm pais ainda mais idosos e têm medo de apanhar a infeção e de a levar para casa", justifica.
MONTADOS DUAS VEZES
Na Casa da Marcha, já há carros completos, "mas vão ter de ser desmontados e montados outra vez", esclarece Salvador Silva. As construções são tão grandes que é impossível tirá-las da oficina inteiras. "Na sexta-feira antes da marcha, é tudo colocado em peças e levado para o ponto inicial, onde voltamos a montar os carros, durante o fim de semana, para estar tudo pronto na segunda-feira", explica José Pontes.
O estatuto de "criativo" de Salvador Silva já lhe valeu a Medalha de Mérito Artístico da cidade, contudo, o antigo carpinteiro está pouco confiante relativamente ao futuro. "A gente nova não quer nada com isto, vêm uns dias e não voltam", lamenta. Dá o exemplo dos alunos do ensino profissional. "Tive de correr com eles, vinham para a brincadeira, os professores deixavam-nos aqui e nós tínhamos de tomar conta da rapaziada", queixa-se.
A Marcha Gualteriana procura assinalar efemérides, homenagear instituições do concelho, representando também temas atuais. Este ano, não faltará a questão da Ucrânia, um carro dedicado à Universidade do Minho, particularmente aos cursos instalados no Teatro Jordão, e outro a marcar os 100 anos da primeira travessia aérea do Atlântico Sul. José Pontes debate-se para encontrar, também, figurantes. Os dois lugares no "cockpit" na reprodução realista do hidroavião de Gago Coutinho e Sacadura Cabral ainda aguardam voluntários.