Ainda nem a meio da Rua de São João vamos e já se sente o rebuliço que se vive na Ribeira, no Porto. Assemelha-se ao ambiente vivido em quase toda a Baixa da cidade, em particular na Avenida dos Aliados e na Rua de Santa Catarina. Transformou-se já numa espécie de rotina: todos os dias, em frente ao edifício da Câmara do Porto, forma-se uma fila indiana com dezenas de turistas à espera de uma oportunidade para tirar uma fotografia com as "instagramáveis" letras azuis do "Porto".
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Ao lado, em Santa Catarina, a confusão é igualmente intensa. Aliás, andar a pé por lá obriga a fintar dezenas de malas, já que grande parte dos turistas que por ali anda está à procura do alojamento local onde vai passar as próximas noites.
menor poder de compra
Perante o volume de visitantes que têm percorrido a cidade nos últimos dias, não pode dizer-se que o negócio esteja mau, admite António Reis, proprietário da centenária loja Pérola do Bolhão, na Rua Formosa. Mas nota-se que, "neste ano, o turista está com um poder de compra menor".
O comerciante de 89 anos exemplifica: "Antes não acontecia, mas agora todos levam conservas". "E duas ou três latinhas não representam nada", lamenta-se. É certo que "não deixam de levar um vinho do Porto, mas são garrafas pequenas".
No negócio de Renato Pereira, o cenário é o mesmo: "Há muitos jovens de mochila às costas que vão para os hostels. E essa camada vai aos supermercados. Trabalha-se agora muito mais para ganhar o mesmo que se ganhava com menos gente". O dono da "De Porto e Alma", em Santa Catarina, nota que, além dos turistas, também os emigrantes "que andam por aí não compram como compravam".
Prova disso é, precisamente, o supermercado Spar, na Rua de São João, que se enche com turistas a comprar águas, bolachas e sandes.
selfies junto ao rio
A multidão acumula-se junto ao cais, na Ribeira, para entrar nos barcos turísticos. Mas por entre o som das conversas espanholas e francesas de quem sobe e desce a Rua de São João, é o sotaque americano de Sónia Franco que sobressai. É em Boston, nos Estados Unidos que vive com os três filhos, de 15, 21 e 26 anos, e com o marido, de nacionalidade americana. Estão há cerca de duas semanas em Portugal de férias, a visitar a família. Mas a enfermeira de 47 anos só voltará a atravessar o Atlântico no próximo dia 28.
"Sou natural de Viana do Castelo e hoje viemos passear ao Porto. É tradição. Todos os anos vimos cá", revela, num sorriso ternurento, ao lado do filho, vestido com uma camisola da seleção nacional portuguesa.
Mais abaixo, mesmo junto ao Douro, em frente ao Café do Cais e com a Ponte Luís I de fundo, Addy, de telefone no ar, tira selfies com a mãe, Nelly, e a amiga. Do que Sivoney Hernandez já viu, "tudo impressionou" a venezuelana, de 59 anos, colega de trabalho de Nelly.
"O rio é muito bonito. É tudo totalmente distinto do que já vi. Nota-se a cultura. O Porto é muito lindo", confessa. É a primeira vez que está a visitar a cidade e diz ser "muito fácil chegar". Até porque fê-lo sozinha, conta orgulhosa. Mais tarde, encontrou-se com Addy e Nelly.
"O meu pai é português. Temos família em Coimbra e em Aveiro. Este ano ficamos um mês, mas normalmente ficamos três", explica a estudante de Direito na Venezuela, de 29 anos.
"Conhecemos Portugal inteiro", atira Nelly, colega de trabalho de Sivoney. São as duas professoras na Venezuela.
de badajoz ao porto
Por entre a multidão, destaca-se um semicírculo de curiosos a ouvir cinco jovens trajados, de guitarras ao peito. É a Tuna de Medicina de Badajoz. Ao terminar a música, os espanhóis explicam que "é tradição" visitarem várias cidades durante todo o verão. Ficam cerca de cinco dias em cada uma delas.
"Para a semana que vem, vamos até Malta", explica Tilico (nome artístico), de 48 anos. É o veterano que toma conta da rapaziada, entre os 19 e os 27 anos.