No início do século XX, a alta sociedade de Ermesinde jogava ténis e fazia festas. Fotos destes eventos e de outros mais prosaicos estão a chegar ao Arquivo Histórico de Valongo, como resultado de uma campanha destinada a construir a memória visual do concelho.
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A já referida alta sociedade ia veranear junto ao rio Douro, viajando em carros que hoje são relíquias. Numa mesa comprida, nas águas furtadas do edifício do Arquivo Histórico e Municipal de Valongo, Manuela Ribeira, a técnica responsável pela instituição, espalha fotos de senhoras elegantes, com vestidos brancos e chapéus de palha presos ao queixo com fitas, numa chegada a Entre-os-Rios.
Há também uma foto, que será também do início do século XX, de um homem a vender peixe, na rua, de canastra ao ombro. Há ainda desfolhadas e muitas procissões. E se, emValongo, ainda há quem se lembre do ringue de hóquei em patins da Praça Machado dos Santos, antes do espelho de água a ter imortalizado para sempre na boca dos nativos como "lago dos patos", se calhar pouca memória há da praça cheia de árvores.
Hoje, fotografias de cenas da vida quotidiana e de alguns lugaresa de Valongo que estavam nos baús ou nos álbuns de algumas famílias estão a ser guardadas para a posteridade. É por estas e por outras histórias reveladas que o Arquivo Histórico Municipal considera aposta ganha a campanha "Valongo a Preto e Branco", a decorrer desde Junho do ano passado e sem data para terminar.
É simplesmente um pedido aos habitantes do concelho para que emprestem ao Arquivo imagens da vida de antigamente na terra. "Temos à volta de 320 imagens digitalizadas", disse Manuela Ribeiro. Há outras ainda por digitalizar, acomodadas em caixas. No final do arquivamento, são devolvidas aos seus donos. Em 2011, o resultado do trabalho poderá ser visto numa exposição.
A ideia de criar um espólio fotográfico do concelho surgiu pela falta de respostas evidenciadas em algumas situações. Pela vontade de mostrar como era a vila antiga às crianças das escolas, por pedidos de algumas pessoas. Percebeu-se que "o Arquivo Municipal em termos fotográficos é muito pobre, faziam falta imagens de determinadas épocas", referiu Manuela Ribeiro.
Na exposição a ser preparada para 2011, será possível ver, por exemplo, a igreja matriz de Valongo com a fachada ainda sem azulejos, uma equipa de hóquei em patins - o "desporto-rei" de Valongo - a posar na Praçade Machado dos Santos nos anos de 1940 ou ainda a banda dos Bombeiros Voluntários de Ermesinde alinhada diante do antigo quartel.
Receber e digitalizar imagens antigas tornou-se tarefa permanente, afirma Manuela Ribeiro. "É um projecto para continuar", garantiu ao JN.