Recuperação custa um milhão de euros, fica pronta em março e revitaliza área urbana de Estarreja.
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Por fora a fachada mantém-se idêntica, mas por dentro a "transformação foi grande". Quem se admira é Joaquim Silva Matos, 88 anos, ao entrar no edifício da Hidro-Eléctrica - Descasque de Arroz, junto à estação de caminho de ferro, em Estarreja. Nos tempos áureos do cultivo nos campos do Baixo Vouga, trabalhou ali nos escritórios. A fábrica, porém, viria a fechar definitivamente em 1985 e o edifício entrou em degradação.
Em 2015, a família do fundador, Carlos Marques Rodrigues, doou o que restava à Câmara, num esforço para preservar a memória.
"Se a Câmara não tivesse tomado este projeto, dificilmente alguém conseguiria reabilitar, porque praticamente ficaram só as paredes", admite Anabela Amorim, familiar do fundador. A Hidro-Eléctrica era, recorda, uma "fábrica lindíssima, com maquinaria vinda da Alemanha". A energia provinha de uma turbina, que, para além da fábrica, "também abastecia a iluminação numa parte da cidade".
Mas o imóvel estava em ruína. "A cobertura já tinha cedido", concretiza o arquiteto Martim Costa que, ao projetar a obra, se esforçou por manter as paredes originais, a volumetria existente e as aberturas de vãos. Recriou um mezanino que viu em imagens antigas e do qual nada restava, mas em vez de madeira usou metal e vidro. Manteve um túnel subterrâneo.
Era por ali que, "através de um tapete rolante", os grãos que eram guardados no armazém do outro lado da estrada, entretanto demolido, entravam na fábrica, conta o ex-trabalhador Joaquim da Silva Matos.
A obra está em fase final e deverá abrir portas no final do primeiro trimestre de 2023. Custou mais de um milhão de euros e beneficiou de fundos comunitários no valor de cerca de 900 mil euros.
Equipamentos antigos
A nova "Fábrica da História", como foi batizada, será um espaço polivalente. Por um lado, dedicado à memória, ao contar a história da fábrica, do arroz que já foi um cultivo importante no concelho, da família que a fundou e das pessoas que ali trabalharam.
Vários equipamentos antigos irão integrar o espólio. Quase não restava nada, mas "algumas peças foram resgatadas em contactos com antigos trabalhadores e elementos da família", revela a vereadora Isabel Simões Pinto. Também foram recolhidos testemunhos e vários antigos trabalhadores têm sido envolvidos no processo.
A nova fábrica também vai fazer a "ponte com o futuro" e alavancar a "revitalização daquela área" da cidade, explica a vereadora. No último piso ficará um restaurante, com vista panorâmica sobre os campos do Baixo Vouga Lagunar, que terá uma ementa inspirada no arroz. Em frente, nos terrenos do antigo armazém, que a Autarquia já adquiriu, ficará o arquivo municipal.
O imóvel não foi classificado, mas a autarca não tem dúvidas de que "faz parte da identidade do território" e havia o "risco de cair no esquecimento" se não fosse recuperado.
Lá fora
Casa em fábrica de cimento, Barcelona
Em Barcelona, Espanha, uma antiga fábrica de cimento deu lugar à morada do arquiteto Ricardo Bofill. O complexo, construído durante a Grande Guerra, contava com 30 silos, mas já não tinha uso. As chaminés industriais passaram a albergar jardins.
Casa para artesãos em oficina, Londres
A casa da Craft Central, uma instituição de caridade que apoia o artesanato, em Londres, Reino Unido, já foi uma oficina de metalomecânica. O edifício original foi erguido em 1860 como parte de um complexo de apoio à indústria de construção naval da região. Depois teve outros usos, mas acabou vazia.
Hotel em quartel de bombeiros, Detroit
Em Detroit, Estados Unidos, um edifício neoclássico de 1929 que albergou durante muito tempo uma corporação de bombeiros foi transformado em hotel. Após mudança dos bombeiros, em 2013, o Apário Hotel Group reaproveitou a estrutura e transformou-a num hotel com 100 quartos.