
Inês Borges (à direita) foi acampar com os amigos
Foto: Rui Manuel Fonseca
Fogo continua ao fim de três dias no Parque Nacional da Peneda-Gerês, inflamado pelos ventos e difícil de combater por atingir zonas "impenetráveis" para os meios terrestres.
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O vento, ampliado pelas mudanças de direção e intensidade, continuam a inflamar e a fazer progredir o incêndio que começou sábado à noite, no lugar de Parada, em Lindoso, Ponte da Barca, e que, ao terceiro dia, chegou à Ermida, na fronteira com Terras de Bouro, já no distrito de Braga.
Apesar do elevado número de meios terrestres (mais de 300) e aéreos (10) no terreno, oriundos de vários pontos do país e da vizinha Espanha, o combate às chamas naquele território, em pleno parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), tornou-se por vezes inglório, também por causa do terreno rochosos e impenetrável para os operacionais.
O fogo fez estragos: além de uma extensa área ardida, alguns anexos destruídos e gado morto, seis bombeiros ficaram feridos, um deles com queimaduras no domingo, e cinco num despiste na A3 de um Veículo Ligeiro de Combate a Incêndios (VLCI) do corpo de Bombeiros de Vila Nova de Tazem (município de Gouveia), que integrava o grupo de reforço que estava em trânsito de Beiras e Serra da Estrela.









Fotos: Rui Manuel Fonseca
"Vamos embora para um sítio longe daqui"
Por causa do calor, o risco de incêndio manteve-se elevado em todo o país - muito elevado no Norte, Centro e Algarve. Para além do fogo em Ponte da Barca, outros incêndios geraram preocupação, principalmente um em Arouca, que obrigou a fechar os passadiços, deixando as populações em sobressalto.
"Vamos embora para um sítio longe daqui", desabafou Inês Borges, que esta segunda-feira chegou do Marco de Canaveses ao parque de campismo Lima Escape, em Entre Ambos-os-Rios, para acampar com os amigos Ana, Inês, Carolina e João. Montaram a tenda e, cerca de três horas depois, abandonaram o empreendimento devido ao incêndio que alastrava perto.
O fumo negro em volta intensificou-se e a Estrada Nacional 203, que liga à fronteira, foi cortada, com grande aparato de meios.
"Acabámos de chegar, montámos a tenda, fomos às compras e, ao voltar, ficámos assustados. Falámos com a Polícia, perguntámos se era melhor ir embora e eles disseram que ficava ao nosso critério, que não podiam garantir se o fogo ia chegar aqui ou não. Então nós achámos melhor ir embora por precaução", contou Inês. "Fugiu o parque todo", lamentava Anna Altshul, proprietária do parque de campismo, comentando:
"Ontem (domingo) não se passou nada, mas hoje com este fumo, com o movimento dos carros e as pessoas a ver as chamas a aproximar-se, fugiram todas. Tinha 150 demanda e agora [às 18 horas] tenho 65". "Tinha pessoas aqui que fizeram reservas no início do ano para passar aqui uma semana e que fugiram, porque disseram que os filhos são asmáticos, tem medo e não querem ficar", acrescentou.
"O ar começa a ficar um bocado irrespirável"

Sérgio Catalão com os filhos José e Duarte
Foto: Rui Manuel Fonseca
Foi o caso de Sérgio Catalão, de Ovar, que estava instalado no parque desde domingo com os filhos José e Duarte, de oito e quatro anos. "Íamos ficar até quinta-feira, mas o ar começa a ficar um bocado irrespirável. Os miúdos começam a ficar desconfortáveis e com medo e não vale a pena arriscar", contou Sérgio, a quem Anna recomendou procurar uma alternativa junto do mar, em Vila Praia de Âncora, e voltar "no dia seguinte". "Falei com a GNR e o fogo está controlado. Isto com o vento como está agora amanhã já não há fumo", disse.
Ao final da manhã, os ventos que se faziam sentir agravaram o incêndio, que começou no sábado em Parada, Lindoso, saltou para Britelo e Mosteiró, e chegou à zona da Ermida. No terreno os meios estavam posicionados de forma a, por um lado, proteger aglomerados habitacionais e, por outro, para impedir que a chamas alastrassem para fora do concelho de Ponte da Barca.
Segundo o comandante sub-regional de Emergência e Proteção Civil do Alto Minho, Marco Domingues, havia risco de as chamas passarem para Terras de Bouro, no distrito de Braga.
Os meios de combate foram sendo reforçados durante a manhã e a tarde, incluindo os aéreos. Chegaram a estar destacados dez, três deles vindos de Espanha, para auxiliar no combate e render equipas que acusavam desgaste.
Um dos grupos que se deslocava das Beiras e Serra da Estrela para Ponte da Barca teve um acidente na A3. Um Veículo Ligeiro de Combate a Incêndios (VLCI) do corpo de Bombeiros de Vila Nova de Tazem (município de Gouveia), despistou-se, cerca das 14.27 horas, ao km 71 -5 da A3, na zona de Rebordões, Ponte de Lima.
Ficaram feridos cinco operacionais que foram transportados para o hospital de Viana do Castelo, com ferimentos ligeiros.
Até hoje ao fim do dia, os meios no terreno conseguiram, de acordo com o comandante Marco Domingues, "cumprir o objetivo que é a salvaguarda das pessoas". "O vento está a ser o grande busílis da questão, porque nos está a provocar demasiadas reativações. É um terreno difícil de operar com muita pedra, com muito mato. É praticamente impenetrável para os meios terrestres. Só mesmo com ferramentas manuais", resumiu.

