Fogo destruiu 430 hectares de mato, causou 12 feridos e testou espírito de sobrevivência.
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A rapidez da propagação das chamas no incêndio em Palmela no passado dia 12 apanhou de surpresa o empresário que explorava até então o turismo nos moinhos centenários. Pedro Lima só teve tempo de tirar os burros do curral antes de este ser atingido pelas chamas e ajudar a salvar o senhor Humberto, 83 anos, que sofreu queimaduras graves. Quando foi a vez de fugir, ficou encurralado pelo fogo. Encostou-se à parede da padaria de António Julião enquanto via as chamas passarem por cima de si. O padeiro de 60 anos tentou a fuga de mota.
Entre a padaria, onde Pedro se abrigou e as chamas , estava a casa onde o empresário realizava almoços gastronómicos para turistas. Serviu como barreira entre o fogo e ficou destruída. "Era um calor intenso, não conseguia respirar, havia rajadas de vento forte que levavam as chamas por cima de mim para o mato à minha frente. Fiquei quieto. Foi uma aflição".
Na fuga de mota, António Julião foi apanhado pelas chamas num caminho sinuoso que é normalmente utilizado para BTT ou passeios de burro. "Assim que a mota começou a arder, saltei e fugi pela encosta, perseguido pelo fogo. Nem sei como consegui, senti uma adrenalina enorme". António conseguiu chegar à estrada nacional depois de galgar uma centena de metros de mato e passar por uma rede de arame farpado.
A cobertura e as pás dos quatro moinhos de vento ficaram destruídas. O turismo gastronómico e os passeios de burro não se vão realizar, pelo menos nos próximos anos. A casa de 200 metros quadrados que Pedro utilizava para o turismo gastronómico está destruída e o empresário antecipa que a verba dos seguros não será suficiente para os gastos. A padaria de Julião continua a funcionar.
Logo no dia seguinte ao incêndio, os donos das zonas afetadas trataram da limpeza do mato. André Amaro, 53 anos, comprou 13 hectares de terrenos junto à encosta do castelo para instalar um centro internacional de artistas e perdeu 500 árvores de carvalho. "Reconstruir uma casa demora um ano, um carvalho leva 150 anos para crescer".
Os seus vizinhos na encosta do castelo que querem aqui construir um hotel wellness, o fotógrafo francês da "National Geographic", Matthieu Paley, e a mulher, Mareile, já procuram junto dos escoteiros ajuda para limpar os terrenos.