"Ir de Senhora da Assunção é o maior orgulho de todos e um sonho há muito ansiado"
A primeira vez foi de anjinho. Levou-a a avó. Tinha dez anos. Volvidos nove anos, Francisca Andrade é Senhora de Assunção na procissão que, hoje, às 16 horas, sai à rua na Póvoa de Varzim. Não esconde o orgulho em encarnar a padroeira dos pescadores, na festa maior da Póvoa, ainda que o vestido de veludo seja quente, o percurso longo e dolorosa a posição, de braços no ar, em oração.
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Para ir de "Senhora" continua a haver, por ali, fila de espera de "cinco ou seis anos" e, no cortejo poveiro, ao contrário de outros, "só seguem figurantes solteiros". Ainda assim, Elisa Novais reconhece que vestir procissões dá, hoje, "mais trabalho" e são menos as crianças a aparecer espontaneamente na Casa dos Anjos. "Nos 15 dias anteriores, entre as 20 e as 22 horas, estou sempre ao telefone. É preciso andar a ver quem vem, ver na catequese e junto das associações locais. Esta geração de pais entre os 30 e os 40 anos já não quer muito saber destas tradições. Às vezes, têm mais do que um emprego ou trabalham por turnos, mas também é algum comodismo", explica Elisa.
De há meia dúzia de anos para cá, continua a explicar, há, por um lado, "mais dificuldade" em arranjar figurantes e, por outro, "mais jovens e menos crianças" nos cortejos religiosos: "Agora, ou têm avós que os trazem, ou já não vêm de pequeninos. Começam a vir a partir do momento em que sabem vir sozinhos tirar medidas, vestir-se e entregar a roupa. Mas, no fundo, as procissões até se tornaram mais sumptuosas, mais solenes. Os jovens têm mais noção do papel que vão representar".
única e irrepetível
Sempre a fascinaram as roupas, as rendas, o desenho dos vestidos das procissões. Há 36 anos, sabendo que a Casa dos Anjos se preparava para fechar portas, trocou o curso de Medicina pelos "trapos". Não se arrepende. Sente-se o amor e a dedicação que põe em cada vestido, a busca permanente por novos trajes, o estudo de painéis, imagens, quadros e filmes de época, o cuidado na escolha dos tecidos, os bordados todos feitos à mão. Cada procissão é "única e irrepetível".
Francisca é, hoje, uma das 230 figurantes da procissão. Nascida e criada numa comunidade profundamente religiosa, para a jovem estudante universitária de Fisioterapia, "ir de Senhora da Assunção é o maior orgulho de todos" e "um sonho há muito ansiado". Ainda mais no ano em que a Igreja da Lapa comemora 250 anos. O namorado carregará um dos andores e a irmã será Maria Mãe da Esperança.
Ainda assim, reconhece que, entre os jovens, "muitos, quando acabam a catequese, deixam de ir nas procissões".
A Francisca preocupa pouco o calor ou as mais de duas horas de trajeto: "Quem anda por gosto não cansa", atira, sorrindo. "Estamos a mostrar as nossas tradições, o que somos e as figuras mais importantes da nossa terra e isso é um orgulho", remata, sem hesitar.