Depois de dois anos atípicos, a Queima de Judas de Vila do Conde regressa, este ano, ao formato normal. O medo e o "poeta carpinteiro" Joaquim Moreira da Silva dão o mote para o espetáculo comunitário de rua, que mistura o teatro, a dança, a música e as artes circenses e volta a juntar em palco mais de uma centena de pessoas. É a 16 de abril em frente à Câmara Municipal.
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"Vamos, finalmente, voltar às ruas depois de dois anos "presos" nas redes sociais", afirmou, ao JN, Pedro Correia, da associação cultural "Nuvem Voadora", a responsável pelo espetáculo, que, em 2020 e 2021, apesar das limitações, nunca parou.
Este ano, o medo é parte da inspiração. O medo da pandemia, da guerra, do escuro. A "Parada dos Medos" vai sair da praça Vasco da Gama, às 22:00, com destino ao tribunal. É lá que, no sábado de Aleluia, os medos serão queimados na fogueira, numa "libertação" que marca o fim do inverno e a chegada da primavera.
O outro "fio condutor" do espetáculo é Joaquim Moreira da Silva, o "poeta carpinteiro" e pouco conhecido, natural de Vilar, Vila do Conde. "Era uma espécie de Robin dos Bosques. Chegou até a ser preso por roubar cereais aos senhores ricos para distribuir pela população", explica Pedro Correia, lembrando ainda o lado "pedagógico" do homem que, nos tempos livres, ensinava a ler as gentes da aldeia. Antifascista, anticlerical e muito à frente do seu tempo, Moreira da Silva criticava com sátira e ironia a sociedade da altura.
O espetáculo, que junta atores amadores e profissionais e várias associações do concelho, termina com a leitura do testamento do Judas em tom de sátira aos "males do concelho".