Vítima de doença prolongada, faleceu, na madrugada desta terça-feira, o historiador Florival Baiôa, fundador e presidente da Associação de Defesa do Património de Beja (AdPBeja). O “Professor Baiôa”, como carinhosamente era tratado, tinha 73 anos.
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Licenciado e doutorado em História de Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Florival Baiôa foi o principal rosto do Movimento Beja Merece+, tendo em 2019 sido galardoado pelo município com a Medalha de Mérito Artístico e Cultural.
A sua paixão pela história, a arte e o património poderá ficar a dever-se às bases familiares dos Baiôas, que, sendo de Mértola, conhecida como “Vila Museu”, espalharam-se por Mina de São Domingos, Vila Verde de Ficalho e Beja, percorrendo a pé as antigas estradas romanas.
Filho de um afamado relojoeiro, Plácido Monteiro, também conhecido como o “Rouxinol do Guadiana” - que fundou o primeiro grupo coral em Beja, com o poeta bejense Mário Beirão -, Florival Baiôa era um apaixonado pela cidade, que dizia querer ver com “mais gente, mais dinamismo e mais importância no panorama nacional”.
Cedo se envolveu nas lutas sociais e políticas, que o levaram a ser expulso do Instituto Comercial de Lisboa durante a crise estudantil de 1969. Em 1973, desertou do Exército quando foi mobilizado para a Guerra Colonial em Angola e, durante dois anos, foi refugiado político da ONU em Bruxelas, enfrentando três mandados de detenção e extradição da PIDE/DGS.
No regresso a Portugal, conduzindo uma velhinha carrinha R6 “com a casa em cima”, quando chegou à fronteira Badajoz/Elvas, foi “informado por um militar de que havia um golpe de estado e era melhor voltar atrás". "Nunca mais esqueço, era o dia 11 de março de 1975 e havia um golpe do Spínola”, recordou Baiôa, numa conversa com o JN.
De regresso a Beja, em conjunto com Cláudio Torres e Borges Coelho, fundou o Centro de Apoio da História e, anos mais tarde, fundou a AdPBeja, visando “a preservação do centro histórico, "que estava a ser abandonado”. Com a associação, foram recuperadas tradições como “As Maias”, os concursos de cantares alentejanos e as mostras de doçaria tradicional e conventual da cidade.
Durante 36 anos foi professor de História, Antropologia Cultural e Organização Política, tendo lecionado em todas as escolas da cidade e também no Politécnico. Nas escolas de D. Manuel I e de Santa Maria Florival Baiôa, criou um clube de jornalismo virado para os alunos e jornais que podem ser consultados no site da Biblioteca Nacional.
“Nunca se consegue gostar da sua terra se não se conhecer um pouco da sua história”, dizia, para justificar a paixão por Beja e a importância que a mesma teve, nomeadamente no período Romano, “construída como grande cidade", sob o nome de Pax-Júlia.
Em 2010, surgiu o Movimento Beja Merece+, procurando lutar contra o desinvestimento a que a região foi vetada.