Lojistas queixam-se de não ter stock suficiente para todas as encomendas, apesar do aumento do preço.
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Em dois anos de pandemia, em que as grandes concentrações e festejos das Queimas das Fitas estiveram canceladas, muitos foram os estudantes que preferiram ir adiando a compra dos trajes. Este é um dos principais motivos que têm levado as lojas da especialidade à rutura de stock. Mas não só. A isto alia-se a falta de matéria-prima, nomeadamente tecidos, com que seriam feitos novos fatos. E, apesar dos preços terem aumentado, os lojistas garantem que "está quase tudo a esgotar, não devendo haver trajes para todos".
No Porto, João Pereira, da loja Capas Negras, e Cristiana Veludo, de A Toga, assumem que a grande "dificuldade está a ser trajar três anos ao mesmo tempo". Não só os caloiros deste ano, mas também os estudantes que estão agora no 2.º e 3.º anos que, por falta das festas, adiaram a compra.
A isto, os comerciantes somam "a falta da matéria-prima por conta da guerra" que impede a confeção de novos fatos e a retoma de stocks.
Em Braga, para o Enterro da Gata, há comerciantes que se queixam de terem deixado de vender mais de 300 trajes, porque nenhum fabricante tem stocks. A solução é estarem sem aceitar encomendas, desde o início do mês, estando excecionalmente a contratar diretamente costureiras para fazer camisas, saias e corsários.
Também em Aveiro, quem comercializa trajes e outros artigos académicos fala da dificuldade em ter material suficiente para os pedidos.
Além de referirem que "os fornecedores estão a ter dificuldade na aquisição de matérias-primas", os lojistas assumem que têm tido problemas "em dar resposta imediata", vendendo algumas peças e entregando o restante mais tarde.
menos pessoas a comprar
Já em Lisboa, estão a recusar encomendas de trajes académicos personalizados, como do Minho e de Tomar, por falta de matéria-prima.
Quanto às encomendas de outras zonas do país onde o traje é nacional, aceitam pedidos "porque há sempre muito stock".
Na capital, o problema é outro: há menos pessoas a comprar.
Só em Coimbra, onde tem havido filas para a aquisição da tradicional capa e batina, não tendo havido problemas com as matérias-primas, decorrendo tudo normalmente.
Lisboa tem preços mais baixos do que o Porto
Atraso na entrega
Em Vila Real, a crise das matérias-primas também está a causar dificuldade no cumprimento de prazos de entrega de trajes e acessórios académicos. Manuela Guerra, de A Toga, confirmou ao JN que se tem notado "alguma escassez" de artigos, o que "nunca tinha acontecido". No entanto, o principal problema são os "atrasos". Ou seja, "o stock não é reposto com a brevidade desejável". Ainda assim, A Toga "tem-se esforçado por cumprir os prazos". A loja fornece estudantes de Vila Real, Bragança e Viseu.
Casa do Estudante ainda com fatos
Em Aveiro, a loja Farras, Fitas e Guitarradas conta que se tem "deparado com dificuldades de aprovisionamento". "Os fornecedores referem a dificuldade na aquisição de matérias-primas. Estamos com bastante dificuldade em dar resposta imediata, em certos casos vendemos algumas peças e entregamos o restante mais tarde", referiu a empresa que comercializa, em média, 500 trajes/ano.
Já a Casa do Estudante, explica Wilson Carmo, presidente da Associação Académica da UA, ainda tem stock porque nos últimos dois anos não comercializou trajes. Por enquanto, não há dificuldade em responder aos pedidos.
Filas longas mas há stock
Em Coimbra, as lojas de material académico já vão tendo filas mas ainda não há falta de matérias-primas. "Está tudo a decorrer bem e não nos foi reportado qualquer problema", afirma ao JN o secretário-geral da Queima das Fitas de Coimbra, Carlos Míssel.
Menos trajes e menos clientes
"A Batina", loja académica mais antiga de Lisboa, está a recusar encomendas de trajes personalizados, como do Minho e de Tomar, por falta de matéria-prima. "Receamos que não haja material suficiente", diz Francisco Ribeiro, gerente, que também sente "uma grande redução de encomendas" do Porto e Coimbra. Francisco Ribeiro diz que "há muita falta de tecido para os trajes e de cartão para as pastas". Não faltou material, contudo, para os pedidos em Lisboa porque "há menos pessoas a comprar". Os trajes na capital custam entre 85 (feminino) e 130 euros (masculino), valores que "vão aumentar exponencialmente" com a inflação, nota Francisco Ribeiro.
Contratação de costureiras
"Este ano já deixei de vender mais de 300 trajes porque nenhum fabricante tem stock", disse, ao JN, Rita Gonçalves, responsável pela Casa Académica, a loja que vende mais trajes em Braga. O estabelecimento não aceita encomendas desde o início do mês e das peças que compõem o traje da UMinho restam apenas umas peças soltas. A situação é semelhante a outras lojas da cidade. Algumas estão, excecionalmente, a contratar costureiras para fazer camisas, saias e corsários, mas a situação só estará normalizada depois do Enterro da Gata. "Nos últimos dois anos não se vendeu nada e algumas empresas fecharam. As lojas não encomendaram e as empresas deixaram de ter stock. Agora voltamos a vender, esgotamos e as empresas não têm como responder", diz Rita Gonçalves.