Quando o calor aperta na Ribeira do Porto, os jovens lançam-se para o rio Douro. Andaimes no tabuleiro não são obstáculo. A prática passa de geração em geração.
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É uma tradição antiga, que passa de geração em geração nas famílias da Ribeira, no Porto: quando o calor convida a banhos e o sol brilha sobre o Douro, o tabuleiro inferior da ponte Luís I serve de plataforma para miúdos e graúdos saltarem para as águas frias do rio. E nem as obras de reabilitação da travessia travam os mergulhos, ainda que com menor afluência face a anos anteriores. Os saltos acabam por atrair o olhar dos turistas que, junto às margens do rio, aplaudem a coragem dos banhistas e eternizam o momento numa fotografia.
Nascido e criado na beira-rio, Alexandre Andrade conhece bem os ritmos do Douro. Saltou pela primeira vez da ponte Luís I para o rio aos seis anos e, desde então, nunca mais parou. Já lá vai mais de uma década.
"O primeiro [mergulho] é sempre aquela adrenalina por ser uma coisa nova. Na altura, estava com o meu primo. Ele disse-me para olhar sempre em frente e nunca para baixo para não ter receio de saltar. Agora é de cabeça, mortal, tudo", disse o jovem de 17 anos, após ter dado um mergulho na companhia do irmão mais novo e do primo. O salto mereceu um aplauso de incentivo dos turistas que, concentrados na margem do rio, observaram a façanha. Alexandre Andrade sente-se "feliz e contente" por honrar a tradição.
"Esta é uma tradição muito anterior aos nossos pais e avós. Queremos dar continuidade", referiu o jovem, que aprendeu a nadar aos quatro anos no rio. Como mestre, teve o avô. "Não vivemos sem a ponte no verão", frisou ao JN.
Maísa Pinto tem 9 anos, mas, tal como Alexandre, já nutre o mesmo gosto pelos mergulhos. Saltar da ponte Luís I para as águas do Douro "é o seu maior sonho". Mas, para já, Maísa lança-se do "muro da Ribeira". Depois, como manda a tradição, saltará do "castelo". Só depois chegará à ponte. "Ela já sabe nadar, mas com a ponte em obras é um bocadinho chato [saltar]", contou a mãe, Cátia Carvalho.
Também nascida e criada na Ribeira, mas a viver atualmente em Gondomar, Cátia tenta manter a tradição viva nos três filhos. A primeira vez que se lançou da ponte tinha seis anos. "As pessoas gostam de ver isto. Quando éramos mais novos, atiravam-nos moedas. É bonito. Vou para outras zonas [do país] e toda a gente conhece isto", contou a jovem, de 29 anos.
Apesar de ser uma "bonita" tradição, Alexandre Andrade admite que possa tornar-se perigosa para quem não conhece bem as águas do Douro e decide aventurar-se. Para quem não é da zona e não está habituado, o jovem aconselha a não saltar ou, então, a lançar-se o mais próximo possível das margens do rio.
"Nós já conhecemos o rio. Devemos fazer as coisas com cabeça", alertou Alexandre Andrade.
Pormenores
Ponte em obras
Tal como o JN noticiou, a reabilitação do tabuleiro inferior da ponte Luís I, entre o Porto e Gaia, está atrasada. A degradação da travessia é maior do que o previsto e a guerra subiu preços e atrasou encomendas. A obra devia ficar pronta em outubro, mas agora não há data prevista.
Investimento
A reabilitação foi adjudicada em 2021, à empresa Casais por 3,25 milhões de euros. A travessia deverá tornar-se pedonal.