Projeto aproxima escolas das empresas e desmistifica ideia de que as fábricas são "sujas e pesadas", garantindo salários acima da média.
Corpo do artigo
"Não precisamos todos de ter "canudo", temos é de aprender todos os dias". Esta foi uma das mensagens que um grupo de 60 alunos de Paredes ouviu dos profissionais de uma metalomecânica de Lordelo. Numa altura em que há empresas do concelho que não conseguem arranjar mão de obra, a Câmara, a associação empresarial e as escolas uniram-se para quebrar estereótipos e preconceitos e mostrar aos alunos que as indústrias não são "sujas, duras e pesadas", sendo que muitas já apostam em tecnologia de ponta, têm "salários acima da média" e podem ser alternativa na hora de escolher uma profissão.
"Temos 84 funcionários, mas teria trabalho para 200 pessoas", testemunha o empresário José Machado, falando de uma realidade que afeta grande parte dos industriais do concelho. "Há falta de mão de obra, sobretudo qualificada. Os jovens não querem este tipo de trabalho, pensam que é sujo, duro e pesado. Hoje em dia, nada disso é verdade. Há equipamentos para quase tudo", sustenta o dono da Inovocorte.
Mostrar possibilidades
O projeto "A Vida à Porta" quer mudar esta realidade, aproximar os alunos das empresas e tentar que sejam a solução para a escassez de trabalhadores no tecido empresarial. "Estas visitas servem para conhecerem o mercado. Nas empresas de mobiliário já não se vê pó, por exemplo. As indústrias estão a apetrechar-se com tecnologias de ponta e têm boas condições", realça Silvestre Carneiro, presidente da Associação de Empresas de Paredes. "Este projeto pretende mostrar aos jovens as possibilidades, desfazendo estereótipos e preconceitos", frisa também Albino Pereira, diretor do Agrupamento de Escolas de Vilela, parceiro da iniciativa.
O problema afeta o mobiliário, a metalomecânica e outras indústrias, clarifica o presidente da Câmara. "Cada vez que fixamos mais empresas em Paredes, as outras veem isso como um problema por lhes estarem a roubar a mão de obra", exemplifica. Alexandre Almeida defende que é preciso "desmistificar". "A indústria não é como era há 20 anos. Oferece trabalhos com elevado grau de especialização e condições salariais acima da média. Em vez de irem para setores como a restauração, o turismo, o comércio, podem ter aqui excelentes oportunidades de trabalho", salienta.
Para os alunos da Escola Básica e Secundária de Lordelo, foi uma oportunidade para conhecer uma realidade diferente. Rayane Oliveira, do 11.º ano, gostava de trabalhar perto de casa e interessou-se: "Gostei daqui e não me importava de trabalhar na área administrativa". Já Cristiano Neto está no 12.º e sabe o que quer: trabalhar na fábrica de mobiliário do pai. "Sempre tive a ideia de continuar o negócio da família", conta, sendo testemunha das dificuldades que o pai tem em encontrar funcionários. "As pessoas da minha idade não querem ir para o pó", resume.
"Isto é bom para percebermos as oportunidades. Mas não vejo o meu futuro na indústria. Gostava mais de fazer uma loja minha", assume Inês Bastos, também aluna do 12.º ano.
Pormenores
Áreas solicitadas
Segundo a Autarquia, dados do IEFP revelam que os profissionais mais solicitados pelas empresas são marceneiros, polidores, estofadores, operadores de máquinas de costura, operários de construção civil e empregados de mesa.
Falta de resposta
Há empresas que têm crescido na ordem dos 30% e algumas rejeitam encomendas por falta de capacidade de resposta, diz o presidente da Câmara. Poderiam ser criadas centenas de postos de trabalho.
Habitação
Paredes tem uma outra dificuldade na captação de mão de obra, a falta de habitação. Alexandre Almeida diz que estão a avançar projetos para construir casas a preços controlados. "Seria muito fácil dizer que a mão de obra ucraniana podia vir para Paredes. Há emprego, mas falta-nos habitação", referiu.