<p>A passagem de nível sem guarda ou cancela, em Baião, onde perderam a vida cinco pessoas, continua aberta à circulação rodoviária. Hoje, quinta-feira, realizam-se os funerais das vítimas em Santa Leocádia. O ferido mais grave registou uma "ligeira melhoria".</p>
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Maria José Vieira Lucas, de 61 anos, não resistiu aos ferimentos provocados pelo acidente de anteontem, que já tinha tirado a vida ao marido, Manuel Lucas (64 anos), ao presidente da Junta Manuel Guedes (55 anos), ao condutor do Mercedes Sérgio Pereira (55 anos) e a Filomena Carvalho Pereira, uma reformada de 63 anos. Internados no Hospital de S. João permaneciam, os primos, Marco António Monteiro (o ferido mais grave, que registou ontem uma "ligeira melhoria") e Pedro Monteiro, de 15 anos.
Apesar da tragédia a travessia continuava, ontem, aberta à circulação. Segundo a moradora Maria Monteiro, o perigo é maior para quem sobe porque "não há visibilidade", devido ao quintal de uma velha casa desabitada. Na localidade, porém, defende-se que é impensável fechar a passagem de nível sem alternativa. "As que existem por força das distâncias não o são", alegam os moradores.
Manuel Fonseca, natural de Mesão Frio, reside há 15 anos em Santa Leocádia, emociona-se sempre que lhe vem à memoria a tragédia: "Eram todos meus amigos. O presidente da Junta, o Guedes, era uma jóia. Fartou-se de fazer obras. O Lucas tinha a vindima marcada para o dia 25. Ia ajudá-lo como faço todos os anos...".
Na freguesia, o dia de ontem foi, assim, de incredulidade. O pároco da Freguesia, Francisco Pedrosa, admite que lhe faltam as palavras para confortar as famílias enlutadas. "Elas perguntam-me como é que Deus deixou que sito acontecesse. Pelo que tenho lido a culpa é dos homens que não fizeram o que deviam ter feito", explica, ao JN, o jovem padre.
Os funerais serão pagos, ao que tudo indica, pelas famílias enlutadas, que estarão a receber apoio psicológico prestado por técnicas da Câmara e da OBER (IPSS).
Embora a perigosidade da passagem de nível tenha sido reconhecida pela REFER e Câmara, continua por explicar a existência ainda de cinco passagens de níveis perigosas no concelho. Fonte autárquica explicou que o caso da Ponte das Quebradas obriga à declaração do interesse público e à desafectação de terreno classificado na Reserva Ecológica Nacional.
Perigo ainda está à espreita nas travessias ferroviárias do país
Passagens sem guarda
Desde 2003, dez pessoas morreram e cinco ficaram feridas em choques com comboios em passagens de nível sem guarda. Os acidentes mortais deram-se a 7 de Julho de 2003, em Monte da Pedra (Crato); a 10 de Junho de 2004, na Ramalhada (Amarante); a 18 de Agosto de 2007, em Bela Mandil (OLhão); a 11 de Março de 2008, em Montijos (Leiria); e a 4 de Novembro do mesmo, em Gesteira (Vila da Feira).
Também sem sinalização
Em Fevereiro de 2007, um homem morreu quando o carro foi colhido por um comboio, numa passagem de nível do Fundão sem guarda, cancela e sinalização. Seis meses depois, um choque em Segadães (Viana) fez um ferido grave.
Sem visibilidade
A falta de visibilidade foi a causa apontada para um acidente, a 19 de Junho de 2003, no apeadeiro de Bias Sul (entre Olhão e Fuzeta), que fez três mortos e dois feridos.
Por erro humano
Em Abril de 2005, duas pessoas morreram e uma ficou ferida, em Darque (Viana). A funcionária não fechou as cancelas.