Número de alojamentos locais já supera o registado em 2019. Especialista em planeamento urbano fala em novos roteiros para dispersar turistas.
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Só durante os primeiros quatro meses do ano, o Porto contou com 418 novos registos de alojamento local. Desses, 327 são no Centro Histórico e na Baixa da cidade. O número é o que mais se aproxima ao de 2019 que, durante o mesmo período, contou 506 novos alojamentos locais. Ainda assim, e porque o setor começou, no ano passado, a recuperar a quebra provocada pela pandemia, já há mais estabelecimentos a funcionar na cidade do que há três anos. De acordo com a Câmara do Porto, são agora, no total, 8662 e os operadores turísticos esperam um verão forte, semelhante à procura recorde de 2019.
"Tínhamos já que ter pensado [durante a pandemia] que não poderíamos voltar a deixar que o Porto se transformasse num parque temático", critica Paula Teles especialista em planeamento do território, referindo-se, em particular, ao Centro Histórico e Baixa da cidade. São essas as zonas mais procuradas pelos empresários de Turismo e a criação de novos alojamentos locais nessa área foi, inclusivamente, suspensa pela Câmara em julho de 2019, enquanto o Município se preparava para discutir uma proposta de regulamento para os estabelecimentos. O processo caiu por causa da pandemia, mas será retomado.
"Temos que fazer novos roteiros, que façam com que os turistas não fiquem só no centro. Há tanta coisa a mostrar no Porto que está fora da Baixa: o percurso Nasoni, a arquitetura da cidade universitária, a cidade desportiva e o Dragão, o próprio museu... Se isso acontecesse, iríamos criar apetência para novos alojamentos fora do centro e da Baixa. Temos que passar a essa mudança. O Porto turístico não pode ser só o "Porto Património da Humanidade". Ele está completamente saturado", observa a especialista, sugerindo "motivações fiscais" para que os empresários procurem outras zonas para fixarem os estabelecimentos.
inverter a tendência
Para tentar recuperar residentes e contrapor a pressão turística, o Município do Porto colocou 109 habitações na Baixa e Centro Histórico a renda acessível, das quais 26 foram arrendadas pela própria Autarquia e subarrendadas a munícipes de acordo com as suas capacidades financeiras. A essas, somam-se mais 61, noutras zonas da cidade.
Sobre essas políticas, Paula Teles considera que "têm de ser muito mais rápidas", já que "os preços do imobiliário continuam a aumentar e as pessoas continuam a ir para as periferias".
Preços aumentam mas turistas mantêm interesse pela cidade
Os hotéis do Porto já registam taxas de ocupação entre os 50% e 85% para os meses de verão, com preços médios a aumentar face a 2019, devido à subida de custos relacionados com os combustíveis, matérias-primas e outros, agravados pela guerra na Ucrânia. Apesar disso, as perspetivas são de um verão "forte" em turistas, disseram vários hoteleiros à agência Lusa. O presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, já disse que "o turismo está de regresso à região" e que a taxa de ocupação hoteleira, em alguns locais, está "a atingir os 95%".