Era uma preocupação antiga e levou o Hospital de S. João, no Porto, a colocar pés a caminho em busca de uma solução.
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Para proteger e evitar a potencial fuga de doentes com demência ou problemas do foro psiquiátrico na Urgência, a unidade de saúde recorreu a pulseiras eletrónicas que fazem espoletar os sensores existentes nas portas do serviço quando um doente se aproxima da saída. O sinal, sonoro e luminoso, permite ao segurança travar a fuga e encaminhar de novo o paciente para o local onde se encontrava.
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O processo de identificação dos doentes de risco começa na sala de triagem da Urgência. Caso haja perigo de fuga, a pulseira eletrónica é colocada no punho do paciente. A pulseira - com um mecanismo semelhante à dos festivais para impedir que seja retirada - é composta por uma bracelete descartável e por um dispositivo eletrónico que, após a utilização, é higienizado antes de passar para outro utente. Denominado "Alerta São João", o projeto foi implementado há três semanas e já é uma ajuda no terreno. Ontem, em cerca de 15 minutos, uma doente fez soar o alarme duas vezes ao tentar abandonar a urgência.
"Este projeto visa proteger uma fatia dos nossos doentes que, pelas suas características individuais, podem correr o risco de sair do serviço de Urgência sem que a equipa de profissionais de saúde se aperceba dessa situação e, assim, pôr em risco a sua própria integridade. Estamos a falar de doentes demenciados, com alguma idade, e de doentes do foro da psiquiatria", explicou Nelson Pereira, diretor da Unidade Autónoma de Gestão da Urgência e Medicina Intensiva do S. João.
O hospital conta com 50 dispositivos, num investimento de cerca de 20 mil euros. Por dia, entre 15 e 20 doentes recebem a pulseira. O sistema é inspirado na tecnologia utilizada no serviços de Neonatologia para evitar o rapto de bebés. Sem especificar quantos casos de fuga registou o S. João nos últimos anos, Nélson Pereira garante que não houve um aumento de casos recentemente. "Mesmo que seja só um põe-nos muito preocupados. Todos os serviços de urgência do país sofrem deste problema", referiu o médico.
Sem acompanhantes
Além de oferecer uma maior proteção ao doente no perímetro da urgência, o dispositivo dá maior segurança aos familiares. "Uma das maiores angústias dos familiares é que os doentes desapareçam sem darmos conta", disse Cristina Marujo, diretora do Serviço de Urgência, admitindo que a pandemia imprimiu uma maior celeridade à implementação do projeto.
"Não termos acompanhantes no serviço de urgência poderia levar a que estas situações [de fuga] se agravassem e isso aumentou a preocupação", referiu Cristina Marujo.
Pormenores
Destinatários -Além dos doentes com demência, a pulseira eletrónica destina-se ainda a reclusos e pessoas com "quadros de alteração comportamental e características psicóticas", bem como pacientes com "mandado para internamento compulsivo" e "tentativas de suicídio". Acrescem "todos os doentes em que existam dúvidas quanto ao eventual risco de fuga ou com incapacidade de perceber a real necessidade de intervenção clínica de urgência".
Atendimento - No período pré-covid, em média, o serviço de urgência do Hospital de S. João recebia 460 pessoas por dia. O programa "Alerta São João" tem capacidade para monitorizar 10% das pessoas em risco de fuga em simultâneo.