Um ferido grave, cinco ligeiros, um só susto: ontem, sexta-feira, à tarde, numa estrada estreia de Balselhas, a 20 quilómetros do Porto, uma carrinha guinou de repente e bateu contra um minibus. Ter-se-à desviado para não apanhar uma criança que apareceu de repente na rua.
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“Ouvi o estrondo. Parecia uma bomba. Um estrondo tremendo, assim como grande pneu a rebentar que rebentou só de uma vez. E depois toda a gente desatou a correr, e eu só ouvia ‘o que foi, Nanda?, o que foi, Nanda?’”.
Maria Fernanda, 51 anos, estava a 100 metros dali, voltava com a filha da escola e acabava de passar em baixo na estrada, a EN209 onde tudo se deu. Eram 17.55 horas. Fernanda desandou, correu com o susto e viu de frente a colisão acabada de acontecer: uma carrinha de mercadorias, Mitsubishi, caixa fechada, toda branca, estava com a cabina enfiada na frente de um minibus amarelo da Resende, os dois retorcidos e inertes, vidros espalhados no alcatrão da Rua Central de Balselhas, Campo, Valongo. “Assustei-me muito. Tudo gritava, muita gente, ai!”.
O choque deixou encarcerado na cabina, pernas presas, o condutor da Mitsubishi, Armando Carvalho, 43 anos, único ferido grave do sinistro (“está politraumatizado, membros inferiores, tem também traumatismo abdominal; apesar da gravidade, nunca correu perigo de vida”, disse um assistente do INEM).
O homem, que deu entrada no Hospital de S. João, Porto, às 20.40 horas, ficou preso duas horas exactas, socorrido a soro e morfina, sempre acompanhado pelos Bombeiros de Valongo e INEM.
Esteve debaixo do olhar tenso da pequena multidão que se juntou imediatamente dos dois lados da estrada, a ver de cima, entre muros e quintais, formando como que duas muralhas de gente que não arredava pé.
Quando o condutor foi libertado da sua cabina torcida e partida, já noite, rua preta, ouviram-se palmas espontâneas – e aí sim, toda a gente dispersou, deixando a carrinha e o autocarro na solidão , o pesado reboque a avançar no revés.
Os restantes envolvidos no acidente, dois adultos e três jovens, sofreram ferimentos ligeiros e trauma: o minibus em que seguiam, sem abandonar a sua faixa de rodagem, foi abalroado com estrondo, choque repentino, frontal.
O que levou a Mitsubishi D Turbo a desviar-se de súbito, guinando à esquerda e a bater na cara do minibus? A GNR não esclareceu a causa – nem prestou declarações. Mas entre quem assistia ao desastre corria a versão de que a carrinha se desviou para não apanhar uma criança, que surgira repentinamente na Rua Central de Balselhas, vinda de um caminho.
Três horas depois daquilo acontecer, Marília Moreira, 76 anos, mãe de Maria Fernanda, ainda sente o sopro daquele som no peito: o desastre foi à frente do seu quintal, sobranceiro à estrada. “Estava em casa e ouvi o estouro. Foi um estouro assim de repente, muito alto, muito alto. Corri logo, ai Jesus! A gente pensa logo o pior, não é? Ainda bem que ninguém morreu".