Mais de oito meses depois das cheias do rio Tinto, em Gondomar, há moradores que continuam sem receber um cêntimo de indemnização. Mesmo nas zonas em que a Metro do Porto assumiu responsabilidade pelos estragos, há quem continue à espera.
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Mercedes e Agostinho Lopes são exemplo dessa situação. A cave de casa, na Rua das Perlinhas, ficou completamente inundada, aquando das cheias que, em Dezembro passado, assolaram toda a freguesia, fazendo estragos no valor global de nove milhões de euros, segundo um relatório da Protecção Civil municipal.
Na casa de Mercedes e Agostinho, o frigorífico e a arca boiavam e tudo quanto havia na cave, desde o chão aos próprios móveis, ficou destruído. "O que salvou a situação foi o seguro particular, porque da Metro não houve ajuda. Visitaram a casa, tiraram fotografias, mas depois remeteram-se ao silêncio", contou o casal, lembrando os momentos de horror que viveu nas cheias. "A força da água era tanta que nem os portões conseguíamos abrir", recordaram.
Ali perto, na Arrifana, zona pela qual a Metro do Porto também se responsabilizou, Custódia Ferreira denunciou uma história semelhante. Por aquelas bandas, toda a gente sabe que a casa desta moradora foi a mais danificada, mas da Metro do Porto, até hoje, não ouviu ou recebeu o que quer que fosse.
"A água na minha casa tinha a altura de um metro. Naquela noite, vi tanta água que decidi ir aos meus vizinhos sugerir que tirassem os carros da rua. Quando voltei para a minha casinha, já não consegui entrar. Uma desgraça. Foi uma cozinha nova, sofás novos, tudo. O que me valeu foi o meu seguro particular, porque da Metro não veio nada", lamentou.
Regressando à Rua das Perlinhas, alguns moradores já receberam indemnizações, mas também estes não ilibam a Metro de algumas culpas. "Eu estou resolvida. Pagaram-se mil euros, mas tenho vizinhos com prejuízos muito maiores a quem a Metro ainda não deu resposta", asseverou Ana Pereira.
Sobre isto, fonte oficial da Metro do Porto disse apenas que "uma parte considerável de casos está resolvida, havendo, no entanto, algumas situações por resolver". Sem mais.
Logo na altura das cheias, a Câmara Municipal de Gondomar e a Junta de Freguesia de Rio Tinto associaram a gravidade das cheias às obras da Metro do Porto. A empresa contestou, assumindo poder haver relação entre as obras e as cheias apenas nas zonas das Perlinhas ou Arrifana.
Para os moradores e para o próprio presidente da Junta, Marcos Martins, não será bem assim. "Primeiro, tinham o estaleiro e o depósito de materiais mesmo no leito da cheia; segundo, naquela altura, o rio estava a ser desviado por um canal com um diâmetro que não suportava o caudal. Para nós, quer a montante, porque a água não podia passar por causa do estaleiro; quer a jusante, por causa dos materiais arrastados, a responsabilidade é da s obras da Metro do Porto". A empresa assim não entendeu e, de fora, ficaram zonas como Campainhas ou Caneiro.
Fernando Sampaio, morador na Quinta das Campainhas há 24 anos, que o diga. "Tive que fazer um buraco na parede da garagem para a água escoar e ir para os campos. Ainda assim, foi tudo destruído. Só lama e muita aflição. Nunca antes das obras da Metro isto aconteceu", contou.
As vizinhas Ermelinda Fonseca e Esmeraldina Melo denunciaram o mesmo cenário e um grande medo pelo futuro. Temem que o problema venha a repetir-se. "Com o próximo Inverno, vai ser igual. Estas pedras todas aqui no rio, vão encalhar nas tubagens da Perlinhas e água não vai passar. Vai ser igual", alertaram.