Moradores de urbanização que fica no cruzamento de três concelhos usam moradas diferentes para serviços.
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Quando, há três anos, Alexandre Santos foi viver para a Urbanização Quinta Senhora da Luz, passou seis meses à espera de ligação de gás. Tudo porque ali as ruas não têm nome. No contrato de água, tem morada em Arrifana, Santa Maria da Feira, e no contrato de telecomunicações, a morada é Cucujães, Oliveira de Azeméis, mas Alexandre vive afinal em S. João da Madeira, na fronteira entre os três concelhos. A Câmara está a criar uma comissão de toponímia para fazer levantamento de todas as ruas sem nome na cidade.
A urbanização desenha-se em torno de casas grandes e vistosas. Ali, há números de porta e um código postal que serve para todas as ruas da urbanização. Nenhuma tem nome. Para fazer encomendas, Alexandre dá a morada do trabalho. O correio, conta, acumula semanas de correspondência, "como a morada não existe, não são obrigados a entregar". Quando recebe visitas, dá o nome da rua de trás e quando ali foi assaltado acabou num impasse entre PSP e GNR. "Chamei a PSP e a primeira coisa que fizeram foi chamar a GNR da Feira. Nem eles sabem o que é. A meio perceberam que isto é S. João da Madeira e voltei a ter que dar declarações".
Rua a, b ou c
No cartão de cidadão, os moradores usam rua A, B e C, embora não haja designação oficial. Francisco Martins mora abaixo de Alexandre, na rua B. "Vivo há dez anos assim. O que nos desenrasca é que a rua divide-se a meio para Cucujães e pondo morada daí, tudo vem cá ter". Alexandre tem serviço de água da Indaqua, Francisco é abastecido pela Águas S. João. "Esta morada não aparece em lado nenhum, em nenhum mapa, em nenhum cadastro de operadoras. É terra de ninguém e as ruas estão todas às escuras".
Sem luz pública
Júlio Grilo é mais antigo ali, conta 18 anos. Mora na rua C. "Já estou habituado. Quando telefono à PSP ou aos bombeiros, tenho sempre que explicar que isto é S. João da Madeira". Para terem direito a recolha do lixo, recorda, "foi um problema; andavam as câmaras a empurrar uma para a outra".
Mas o maior problema é a estrada perpendicular que dá acesso à urbanização e que é porta de entrada na cidade. Não tem nome, está "lastimável" e sem luz pública. É comum os carros baterem no separador central e nos postes de eletricidade. O Município diz tratar-se de uma rua que não é de domínio público e que está num imbróglio jurídico, daí não haver intervenção.
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Problema antigo
O problema da falta de nome nas ruas na Urbanização Quinta Senhora da Luz, em S. João da Madeira, terá mais de vinte anos.
Câmara quer levantamento
Na última reunião de Câmara, o presidente Jorge Sequeira anunciou que está a constituir-se uma comissão de toponímia. Está para breve e vai fazer levantamento de arruamentos sem nome.
Comissão toponímia
No início de 2013, foi constituída uma comissão de toponímia em S. João da Madeira, com elementos da Assembleia Municipal e representantes das instituições locais, para dar resposta ao problema. Mas não teve efeitos práticos.