Carlos Melancia considera "inevitável" um Governo de coligação para "salvar o país"
Carlos Melancia, que foi ministro do 9.º Governo quando o país recorreu ao Fundo Monetário Internacional na década de 80, considera agora "inevitável" a formação de um Governo de coligação para "salvar o país".
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"É inevitável que seja quem for que eventualmente tenha uma posição de liderança que tem de associar-se para salvar o país, podem ser amarelos ou azuis, não há nada a fazer", defendeu o antigo ministro do Equipamento Social do 9.º Governo (1983-1985) de coligação PS/PSD, liderado por Mário Soares.
O país enfrentou em 1983 uma grave crise económica, levando o Governo a negociar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) um apoio de 650 milhões de dólares americanos (450 milhões de euros), 3,5 por cento do Produto Interno Bruto e quase o dobro do nível das reservas internacionais do país em 1983, excluindo o ouro.
Carlos Melancia disse à Lusa que não defende que se volte a fazer o 9.º Governo, mas afirma que importa "ter a noção de que o problema nos afecta a todos, colectivamente, e que esta história de andarmos a discutir o sexo dos anjos não nos leva a lado nenhum".
"Acho que a situação em Portugal reflecte algumas asneiras que não se fizeram ontem, mas nos últimos 20 anos e que foram acumulando situações financeiras graves ou sérias", referiu, considerando que "não é possível Portugal seguir o caminho da Grécia e da Irlanda com a convicção de que o problema se resolve", embora reconheça "não haver alternativa".
O antigo ministro e ex-governador de Macau, que hoje preside à Fundação Cidade de Ammaia, disse à Lusa ser "fundamental que a comunidade europeia mude a sua estratégia para se poder ter alguma esperança de que estas áreas do sul da Europa têm hipótese de recuperar".
"É a minha convicção que isso vai acontecer, mas não podemos esticar a corda e, neste momento, por falta de acordo interpartidário não foi possível constituir uma base para poder esperar que isso venha a acontecer", salientou.
Com as eleições de Junho, Carlos Melancia diz esperar que "seja possível pôr de pé um Governo de larga maioria parlamentar para poder vir a ter benefícios daquilo que vai ser a evolução da Europa no que diz respeito ao problema do défice e do desenvolvimento".
Para este responsável, "não vai ser possível ao mundo ocidental ultrapassar as dificuldades que vive sem a comparticipação activa da China", país que é, "em termos financeiros, a prazo, o maior empório do globo".
Com uma "reserva em dólares maior do que a Reserva Federal dos Estados Unidos", a China "precisa de fazer aplicações, independentemente dos seus interesses", disse Carlos Melancia, observando que a "situação conjuntural da Europa é uma aplicação a prazo para quem acredita que ela é rentável".
"Espero que a China continue (a comprar dívida pública), no bom sentido, para não só resolver o problema português, mas para resolver o problema do euro e da Europa, porque o mundo sem Europa não consegue sobreviver", concluiu.