As tendências proteccionistas que ainda permanecem no relacionamento entre Portugal e Espanha devem ser postas de lado para garantir uma progressiva integração económica e europeia das duas economias, defendeu hoje, sexta-feira, em Barcelona o Presidente da República.
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"É necessário pôr de lado quaisquer tendências proteccionistas que ainda afectem as relações entre Portugal e Espanha, e criar condições propícias para um mais amplo e recíproco acesso das empresas portuguesas e espanholas aos mercados dos dois países", afirmou Aníbal Cavaco Silva.
"Num ambiente global cada vez mais competitivo, a resposta fácil do proteccionismo não é sustentável, nem desejável para o bem-estar dos nossos cidadãos", disse o chefe de Estado, na abertura do primeiro Fórum Ibérico.
A questão do proteccionismo tem marcado o debate sobre o relacionamento ibérico nos últimos meses.
Esta semana, o presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Basílio Horta, alertou contra o proteccionismo espanhol face às empresas portuguesas.
"Há uma palavra, que é a equidade, nas relações comerciais, e nós quando olhamos, em termos de obras públicas não vemos empresas portuguesas em Espanha. Não é de agora, nunca vimos, mas a pergunta é esta -, devemos nós aceitar como boa esta situação?", disse então.
Em contraponto a este proteccionismo denunciado pelo presidente da AICEP, Cavaco Silva - que na quinta feira iniciou uma visita à Catalunha - defendeu "uma integração económica cada vez maior, não apenas no plano ibérico mas também no plano europeu" e que deve ser "marcada por princípios como a transparência, a acessibilidade e a concorrência justa".
"É crucial tirar partido das oportunidades que a integração económica oferece. A abertura à inovação e ao Mundo, a capacidade de integrar conhecimento e de o converter em novas oportunidades de negócio, em novos produtos e em novos métodos de trabalho são a chave do sucesso", disse.
Cavaco Silva destacou que a par da crescente concorrência há hoje "acrescidas complementaridades e interdependências", sendo por isso "imperativo promover uma cultura de cooperação e de partilha entre as empresas".
Um esforço que obriga, disse, a aumentar "o capital de conhecimento" e a desenvolver parcerias, "redes de contacto, métodos comuns de trabalho e estratégias coordenadas de internacionalização".
"O reforço da competitividade passa também pela cooperação entre as empresas, a troca de experiências e a promoção efectiva de interesses comuns", afirmou.
Cavaco Silva defendeu ainda a importância da responsabilidade social e ética no quadro empresarial, factores que associou à actual crise económica e financeira.
"Na origem da actual crise financeira e económica global, pesaram muito a violação de normas éticas e a adopção de comportamentos de risco que não tiveram em devida conta o seu possível impacto negativo sobre o bem-estar das populações", afirmou.
"Foram muitos milhões de pessoas que perderam o seu emprego e as suas poupanças devido à irresponsabilidade e ao egoísmo de alguns", considerou, aludindo aos "enormes custos económicos e sociais provocados por essa violação de normas éticas, com prejuízos que irão perdurar por bastante tempo".
Hoje, insistiu, a responsabilidade social pode ser um "catalisador da recuperação económica" que aproveite oportunidades, use e partilhe os recursos de forma justa, credibilize as empresas e crie condições "favoráveis à criação e à manutenção de empregos".