O Presidente da República, Cavaco Silva, defendeu a antecipação "desde já" da situação do país após a crise, dizendo ser necessária "uma visão estratégica de médio e longo prazo".
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Num discurso em que "esperança" foi a palavra-chave, Cavaco Silva reflectiu sobre a crise financeira e mostrou-se convicto de que o país pode "fazer deste tempo de provação um tempo de esperança".
Em tempos de crise, "não basta que nos limitemos a tentar sobreviver", disse o Presidente da República durante a sessão solene das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, em Santarém.
"É necessário ver mais além; antecipar, desde já, a situação em que queremos estar quando for finalmente ultrapassada a conjuntura actual, e criar as condições para tirarmos partido da fase de recuperação", disse o chefe de Estado, que defendeu também "uma visão estratégica de médio e longo prazo, uma visão alheia a calendários imediatos, que poderiam comprometer o futuro e tornar inúteis os sacrifícios que a hora exige".
Para que Portugal seja "um dos vencedores" após os "tempos de profundas dificuldades", é necessário "apostar no que é, de facto, essencial para o aumento da capacidade competitiva" do país, nomeadamente através da melhoria do sistema educativo, o desenvolvimento do mundo rural, uma "sociedade civil verdadeiramente emancipada do Estado", uma "administração pública que preste serviços de qualidade e tenha assegurada a sua independência face a interesses partidários" e "um sistema judicial com credibilidade e prestígio".
"Mas é necessário ter também a coragem de encarar a verdade dos factos e proceder às mudanças que sejam necessárias, na política como na sociedade em geral, na esfera pública como na actuação de cada um em particular", defendeu.
Cavaco Silva reafirmou que "a verdade gera confiança e a ilusão é fonte de descrença" para defender que "só uma informação correcta permite às pessoas fazerem as escolhas mais adequadas para acautelarem o seu futuro e o das suas famílias".
"Temos, antes de mais, de saber extrair da actual situação as lições que se impõem. De pouco adiantarão os diagnósticos e, ainda menos, as lamentações ou recriminações, se nada, entretanto, mudar nas atitudes e nos comportamentos", disse.
Cavaco Silva pediu "uma cultura de valores", a valorização dos laços familiares, o combate ao "esbanjamento e desperdício" e uma "clara presença de princípios éticos nas instituições, no mundo dos negócios e no mundo do trabalho".
"Tanto no Estado como na sociedade civil é preciso adoptar uma cultura de transparência e de prestação de contas", alertou, lembrando que foi a "ausência de escrúpulos e de princípios" que causou alguns dos principais problemas que o mundo actualmente enfrenta.
Cavaco Silva lembrou ainda que "para triunfar das dificuldades é indispensável ter confiança" e disse acreditar que "Portugal, pese o realismo que os indicadores impõem, tem razões para confiar".
"Não podemos deixar-nos abater pelo desalento", sustentou.
Durante a sessão solene, Cavaco Silva agraciou 37 personalidades, entre as quais o antigo ministro Pedro Pires de Miranda, a artista plástica Joana Vasconcelos, o médico Gentil Martins e o criminalista e presidente da Câmara de Santarém Moita Flores.
As escolhas do chefe do Estado recaíram este ano sobre personalidades da indústria, educação e artes, tendo contemplado escritores, maestros, músicos, escultores, artistas plásticos, ex-ministros, investigadores e empresários, numa escolha eclética que tenta reflectir o dinamismo da sociedade portuguesa.
Além destas 37 personalidades, Cavaco Silva distinguiu ainda outras 20 personalidades residentes no estrangeiro, entre as quais a cantora e compositora Eugénia de Melo e Castro, o jornalista luso-brasileiro Aristides Drummond, o sacerdote comboniano Alfredo Ribeiro Neres e o imunologista Caetano Maria Pacheco dos Pais Reis e Sousa.