Jerónimo diz que base de apoio do Governo "se esboroou" e que chumbar a moção "não calará" o país
O secretário-geral do PCP considerou, esta segunda-feira, que "a base social" que elegeu o Governo "há muito se esboroou" e que o chumbo da moção de censura "não derrotará, nem calará" a sua "expressão inequívoca" que alastra pelo país.
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"Para alguns a moção de censura é inconsequente, mas a verdade é que a base social e eleitoral que elegeu esta maioria há muito se esboroou e que hoje o descontentamento e a consciência de que a política deste Governo continuará a agravar os problemas do país são sem dúvida maioritários, é por isso que se alarga e multiplica a luta e a contestação ao Governo e a esta política", afirmou Jerónimo de Sousa.
As palavras do líder comunista foram proferidas durante o debate da moção de censura do PCP, na Assembleia da República.
Perante todos os ministros do Governo PSD/CDS, Jerónimo procurou responder aos que classificaram a moção dos comunistas como inoportuna, inconsequente ou uma "tática de antecipação ou condicionamento" de outros partidos.
"Quem pretende reduzir este debate e moção a uma qualquer tática política não conhece e não percebe a situação dramática que em que se encontram o país e a maioria dos portugueses, o país está farto desta política do passado e farto deste Governo", afirmou o líder do PCP.
Aos que afirmam que a moção de censura "é inoportuna porque o país não precisa de instabilidade", Jerónimo de Sousa interrogou qual é a estabilidade "para os milhões de portugueses que estão desempregados, cujo salário é diminuído e roubado, que se vêm empurrados mais uma vez para a emigração, a insolvência, a ficar sem casa".
"Esta moção de censura, que dá expressão à inequívoca censura popular que encontramos por todo o país, é contra a política de direita e o Governo que a aplica", frisou.
Para o secretário-geral comunista, "pegando por onde se pegar", seja no "plano político, económico, social ou cultural, seja no plano da soberania, não é excessivo dizer que este Governo onde tocou, estragou".
"Um ano dobrado, a recessão económica profunda que o país atravessa tem como consequência a mais elevada taxa de desemprego das últimas décadas, mais de um milhão e duzentos mil desempregados, dos quais menos de 300 mil têm subsídio de desemprego, este imenso flagelo social, com agravada incidência nas novas gerações, é a principal marca da política de direita aplicada pelo Governo", considerou.
Jerónimo de Sousa elencou depois vários setores que "estão na mira deste Governo" e do que disse ser o seu "programa de destruição em massa dos direitos dos portugueses", afirmando que só pelas alterações ao Código do Trabalho o Governo "merecia uma moção de censura".
No mesmo sentido, o deputado comunista afirmou que o "ataque" ao Serviço Nacional de Saúde, a "política de desinvestimento" ou as limitações no acesso às prestações sociais "num momento em que se devia alargá-las" são "razões mais do que suficientes para censurar este Governo".
O secretário-geral do PCP acusou ainda o primeiro-ministro de, "enquanto o país se afunda", andar "pelo mundo a vender o património de todos os portugueses, a anunciar que estão em saldo empresas fundamentais para a soberania e a economia".
"Pode a correlação de forças aqui na Assembleia não deixar passar a moção, mas não a derrotam, nem calam a censura, ela está lá fora e a realidade, tal como o mundo, move-se, ou julgam que não? Isto há de mudar e para melhor", concluiu o líder comunista.