A entrada de Maria Luís Albuquerque para chefiar a equipa das Finanças é uma "solução muito fraca", uma vez que está envolvida no processo dos 'swaps' e não deverá trazer "mudanças substanciais", defendem alguns economistas.
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"A substituição pela secretária de Estado do Tesouro é uma má solução, uma solução muito fraca", considera Abel Fernandes, professor da Faculdade de Economia do Porto, para quem o facto de Maria Luís Albuquerque estar envolvida na polémica relacionada com os contratos 'swap' pode "afetar a sua capacidade para liderar esta pasta".
Também Castro Caldas, da Universidade de Coimbra, e Jorge Landeiro Vaz, do ISEG - Instituto Superior de Economia e Gestão, citados pela Agência Lusa, lembram o envolvimento de Maria Luís Albuquerque no processo dos contratos 'swap' (derivados de taxa de juro) entre empresas públicas e bancos internacionais, com perdas elevadas para o Estado, o que já motivou a ida da ainda secretária de Estado ao parlamento.
Castro Caldas estranha mesmo que não tenha sido encontrada outra solução para a pasta das Finanças: "A substituição é reveladora da dificuldade de encontrar alguém na área dos partidos do Governo que substitua Gaspar. (A secretária de Estado) é uma pessoa que aparece associada ao problema dos 'swaps' e é estranho que não tenha aparecido uma opção que envolvesse menos problemas para o Governo", considerou.
Quanto ao que se pode esperar desta remodelação, os três economistas são unânimes ao antecipar que Maria Luís Albuquerque vai continuar o caminho iniciado por Vítor Gaspar.
"O Governo tem mantido a mesma linha política. Não sei se alguma coisa irá mudar, tenho muitas dúvidas. Não é apenas porque Gaspar é substituído que as coisas mudam", afirmou o economista Landeiro Vaz.
Também Castro Caldas considera que, se nada vai mudar internamente, já Frankfurt vai deixar de ter um canal direto para com o Executivo: "A única diferença é que o Banco Central Europeu deixou de ter alguém com uma ligação tão direta à implementação do memorando e da política orçamental", disse.
Na mesma linha, o professor da Universidade do Porto Abel Fernandes não antecipa que "a política venha a sofrer grandes alterações", até porque Maria Luís Albuquerque era secretária de Estado do Tesouro de Vítor Gaspar desde que o Executivo tomou posse, em junho de 2011.
O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, apresentou esta segunda-feira o pedido de demissão numa carta enviada ao primeiro-ministro, em que refere que a falta de "mandato claro" para concluir atempadamente a sétima avaliação não lhe permite continuar no cargo.
Na carta enviada a Pedro Passos Coelho, em que pede a demissão do cargo, Vítor Gaspar relembra que "apenas após o Conselho de Ministros extraordinário de 12 de maio" recebeu "um mandato claro do Governo que permitisse a conclusão do sétimo exame regular (o que aconteceu imediatamente a seguir, a 13 de maio)".
Vítor Gaspar vai ser substituído pela atual secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque.