O palco do polidesportivo de Mafra transformou-se ontem numa espécie de ringue de boxe. Passos Coelho e Paulo Rangel tentaram neutralizar-se por "KO técnico" com quedas no tapete. Aguiar-Branco preferiu ser mais institucional para se demarcar deste duelo.
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Marcelo Rebelo de Sousa tinha razão: o congresso estava organizado entre claques e a tribalização ficou clara quando Passos Coelho atacou Paulo Rangel. Ouviram-se os primeiros assobios da tarde e de imediato parte dos delegados e dos observadores saltaram das cadeiras aos gritos: "P-S-D!" para calar os apupos. As emoções explodiram quando o ex-líder da JSD disse conhecer Rangel apenas "de há dois anos a esta parte".
A referência ao passado recente do adversário foi feito depois de ter revisitado o seu passado, com apartes que mereceram risos cúmplices da plateia.
Também Aguiar-Branco começou a sua alocução puxando ao sentimento saudosista dos sociais-democratas, ao referir que se filiou na JSD em 11 de Novembro de 1974. Um recado a Rangel, que antes do PSD foi militante do CDS.
O registo emotivo de Passos Coelho acalmou quando atacou Sócrates e o Governo rosa ou quem recebe subsídios do Estado sem ter de contribuir com trabalho ocupacional nas autarquias, nas organizações não-governamentais ou em Instituições Particulares de Solidariedade Social.
Mas a tensão voltou a disparar quando Rui Machete avisou que faltavam cinco minutos: "Já passaram 20 minutos, senhor presidente? O meu relógio deve ter atrasado. Bom , mas cumprirei, cumprirei...". Mais assobios, e Passos teve de dirigir-se à plateia a pedir contenção.
O nervosismo das claques eclodiu pela terceira vez quando Passos se dirigiu a Jardim, lembrando que não é só o líder madeirense que tem capacidade para "perdoar", como fez com Sócrates.
Passos Coelho foi ainda duro com as posições de Ferreira Leite no Orçamento de Estado (OE) e no Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), afirmando que se o PSD fosse mais acutilante talvez estes dois documentos fossem diferentes. "Se o OE não interessa ao país qual o sentido de responsabilidade ao deixar passá-lo?", perguntou.
Mais institucional, Aguiar-Branco justificou que ser líder da oposição é difícil, por ser preciso "pensar no interesse nacional" e não apenas nos partidários.
Paulo Rangel também optou por um registo emotiv,o ao elogiar o "exemplo cívico" da líder repetindo do púlpito: "O PSD tem de falar claro ao país e tem de falar forte". "Chegou a hora do PSD marcar a diferença e de fazer rupturas", recordando que "sempre que o PSD falou claro o PSD mobilizou os portugueses e venceu eleições", assinalou.
Citando o exemplo de Sá Carneiro, Pinto Balsemão e Cavaco Silva que, no passado, recusaram alianças com o PS.
O eurodeputado demarcou-se dos socialistas, pormenorizou os "fracassos" da governação e e comparou o estilo de Sócrates a Hugo Chavez pela tentativa de "personalizar e fulanizar o poder".
Sócrates "é o rosto dos bloqueios da vida portuguesa", pelo que Portugal precisa de uma verdadeira dessocratização", repetiu.
Castanheira Barros foi penoso. Depois do pedido de ovação, de pé, para a coragem dos madeirenses, tentou uma piada: o clube de fãs de Sócrates são as sondagens. Como a plateia não reagiu, falou do partido, mas era tanto o ruído que Machete teve de pedir silêncio no pavilhão. Para esquecer.