<p>Sócrates reafirmou esta sexta-feira ter sido vítima "da calúnia e da difamação" de quem não ganha nas urnas. Em alusão ao caso Freeport. No PS ninguém é excluído ou silenciado, disse sobre Alegre. Pediu ao país uma nova maioria absoluta.</p>
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A primeira das três ovações dos delegados ao discurso do líder foi para a alusão "à campanha negra" levada a cabo por alguns órgãos de comunicação social - "Quem escolhe quem governa é o povo, não é um director de um jornal ou uma televisão", disse, antes de frisar: "Em democracia, o povo é quem mais ordena". Foi apenas uma das frases habituais da Esquerda que o líder socialista fez questão de proferir.
A segunda ovação de pé brindou a palavra dada de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para tornar o combate ao desemprego uma prioridade e a terceira, quando apelou à renovação da maioria nas próximas eleições legislativas.
A sessão de abertura do congresso socialista, em Espinho, foi assim palco de mais declaração pública de inocência e de vitimização, com o secretário-geral do PS a referir que "há um combate a travar pela decência na nossa vida democrática" e que os socialistas não podem permitir que "vençam os que fazem política com as armas da calúnia e da difamação".
A insinuação de que o caso Freeport foi desencadeado por adversários políticos foi ainda salientada ao dizer que "os insultos e os ataques pessoais" são desferidos por quem não consegue vencer nas urnas.
No início da alocução, e para uma sala ainda a dois terços, Sócrates já tinha agradecido a solidariedade dos apoiantes. "Nunca me senti só mesmo nos momentos mais difíceis. Nunca me faltou o apoio do PS e de muitos portugueses", apontou.
O ataque ao PSD ficou assinalado pela referência à escolha de Santana Lopes para a candidato à Câmara de Lisboa, como a prova de falta de alternativas e de regresso ao passado dos sociais-democratas, "apresentando os mesmos responsáveis pelo fracasso da governação".
"Nunca virámos a cara à luta" disse, em mais uma frase digna de Jorge Coelho, para apelidar o BE de "pequeno partido de protesto" e criticar os que se opuseram às mudanças na Educação - como Manuel Alegre - que votou ao lado da Oposição pelo fim do modelo de avaliação dos professores. "Vejo-os sempre muito disponíveis para dar lições de Esquerda", referiu. Embora no final tenha dito que "neste partido não há excluídos nem silenciados".
O combate à crise também foi destacado na necessidade de regular os mercados e da Europa convergir na eliminação dos off-shores. O socorro à Banca "não foi para salvar os banqueiros, mas os portugueses da falência dos seus próprios bancos", disse. E houve ainda espaço para questões caras à Esquerda: "Não foi por táctica política que fomos a favor da despenalização do aborto ou da nova lei do divórcio". A próxima bandeira é legalizar o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, no apelo: "Queremos um novo mandato para acabar com a discriminação".
Tecnologia e coreografia substituíram as bandeiras
O profissionalismo colocado na organização do conclave revela bem a determinação de José Sócrates no cuidado que coloca na imagem que transmite. Discursando diante de um écran gigante de alta definição, o líder socialista pontuou o seu discurso com a ajuda de um teleponto, cujo texto é imperceptível nas imagens televisivas. Ao mesmo tempo, era efectuada a tradução simultânea do discurso para os portadores de deficiências auditivas. Todos os detalhes foram pensados ao pormenor. A coreografia do líder, a encenação das luzes, a música de fundo no final do discurso. Tudo devidamente controlado por uma régie com mais e melhores meios que algumas das televisões presentes. Era neste "posto" que estava em permanência um dos assessores do primeiro-ministro: Luís Bernardo garantia que o espectáuclo seria perfeito. Nos bastidores do congresso, isto é, realmente por detrás do palco onde José Sócrates discursou, ficaram amontoadas as caixas de inúmeros equipamentos tecnológicos utilizados, como se se tratassem dos meios de uma banda de rock em digressão. Os tradicionais meios de promoção política ficaram-se pelas três bandeiras levadas por congressistas para a festa: dois bandeiras brancas com o punho vermelho e uma amarela com o punho da mesma cor.