<p>Sócrates chegou a Belém com vinte minutos de atraso para a audiência com o presidente. À saída, cerca de 45 minutos depois, apenas disse aos jornalistas que"foi uma boa conversa". Mais tarde, Cavaco confirmou. </p>
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Para desanuviar a tensão, a análise dos resultados eleitorais de domingo esteve no centro dessa "boa conversa", a dois, confirmada pelo presidente, já ao fim da tarde, na festa do 5º aniversário do Museu da Presidência. À pergunta dos jornalistas: "Foi uma boa conversa para si também?", Cavaco Silva respondeu: "Foi". Apenas. Mais nada se soube, nem por que razão Sócrates levou para a reunião um pequeno bloco, que à entrada tinha na mão direita e à saída já levava na mão esquerda.
Com este encontro Cavaco iniciou uma ronda de audiências com os líderes dos partidos parlamentares. Hoje, começará por receber Manuela Ferreira Leite e terminará, ao final da tarde, a encontrar-se com Jerónimo de Sousa, seguindo já a nova ordem de peso eleitoral dos partidos.
O objectivo é ganhar tempo no procedimento que levará à nomeação do futuro chefe de Governo, uma vez que os resultados eleitorais oficiais só serão conhecido no dia 7, com a eleição dos quatro deputados dos círculos da emigração. Após esta auscultação informal, o presidente cumprirá a formalidade legal de receber delegações das formações políticas e poderá indigitar o primeiro-ministro logo a seguir.
A partir daí, e passada uma esponja sobre o clima de guerrilha instalado nas últimas semanas, será o regresso à normalidade. Parece ser a ideia-chave em Belém.
O JN sabe que Cavaco Silva quererá manter o equilíbrio de poderes institucionais com o próximo Governo. O que implica que, estando sob os holofotes no momento de nomear o novo Executivo, o presidente preferirá seguir a tradição política e indigitar o líder do partido mais votado, José Sócrates. Até porque uma outra opção poderia ser encarada como uma revanche pessoal. Além disso, os eleitores, ao terem votado maioritariamente no PS disseram que querem Sócrates primeiro-ministro.
Outra das razões apontadas ao JN para que Cavaco se resigne a indigitar o líder socialista é a de que, mesmo tendo mais votos e deputados do que o PS sozinho, o PSD e o CDS não têm a maioria, nem no Parlamento, nem no país. Assim, Cavaco fica sem espaço para outra decisão, a menos que tenha informações em contrário.
Por outro lado, fez caminho a tese da fragilização política do presidente em consequência do caso das escutas, e ainda mais pela declaração pública que fez. Mas essa fragilização é vista como não beliscando as competências constitucionais e institucionais do chefe de Estado.
Em Belém, tudo indica, que no futuro próximo, a linha de cooperação institucional é para manter, ainda que Cavaco queira vir a ser mais interventivo e atento a políticas decisivas do próximo Governo, como o Orçamento do Estado. Afinal, será um Executivo de um partido sem maioria absoluta.