Manuel Guiomar, arguido no caso "Face Oculta", fica proibido de contactar com os restantes suspeitos e de sair do país. Armando Vara será ouvido no dia 18. Hoje, sexta-feira, há mais interrogatórios.
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Manuel Guiomar, quadro da Refer, foi ontem suspenso de funções pelo juiz de instrução criminal de Aveiro no âmbito do caso "Face Oculta". É suspeito de ter passado informações confidenciais ao empresário Manuel Godinho.
O arguido, de Ponte de Sôr, Alentejo, ficou, por isso, indiciado por um crime de corrupção passiva e dois ilícitos de corrupção activa para acto ilícito.
Em causa está o facto ter comunicado informações sobre concursos públicos da Refer para a recolha e tratamento de resíduos ferrosos, designadamente no Sabor, Vila Viçosa, Aljustrel e Beira Baixa. Houve um caso em que chegou a dizer quem eram os demais candidatos. E isso acabou por beneficiar o empresário dono da O2 - Tratamentos e Limpeza Ambientais, de Ovar, que assim ganhou contratos.
Outra situação pela qual ficou indiciado tem a ver com a entrega, a dois funcionários da Refer, de envelopes com mil euros em notas cada um, para, alegadamente, permitirem a subtracção, ilegítima, de material ferroso na linha do Douro.
Aquele foi o único arguido do processo "Face Oculta" que durante o dia de ontem foi ouvido nas instalações do DIAP de Aveiro. Ao que soube o JN, perante João Marques Vidal, procurador do Ministério Público (MP), e António Costa Gomes, magistrado de instrução criminal, o arguido optou sempre por não prestar declarações.
A presença de Manuel Guiomar perante o o juiz foi justificada pelo MP pela necessidade de alteração da medida de coacção. O interrogatório mais aguardado do processo é o de Armando Vara, mas só está marcado para o próximo dia 18.
Além de ter sido suspenso de funções na Refer, Manuel Guiomar viu o tribunal decretar-lhe a proibição de se ausentar do país e de contactar directa ou indirectamente com os restantes 14 arguidos do processo.
Estas medidas de coacção foram exactamente as sugeridas pelo procurador titular do caso.
A sua advogada, Poliana Pinto Ribeiro, disse que Guiomar está indiciado por "alegadamente ter movido algumas influências no âmbito de concursos". Quanto às medidas de coacção, mostrou-se contrária à suspensão de funções.
Outros dois arguidos chamados ontem, Manuel Nogueira Costa e o seu filho Paulo Pereira Costa, viram a sua inquirição ser adiada para o próximo dia 23, explicou o advogado Pedro Marinho Falcão. Estes dois indivíduos são suspeitos de terem feito parte do grupo de pessoas que conheciam e colaboravam com Godinho em alegadas práticas delituosas.
Hoje, continuam a ser interrogados mais arguidos.
EDP confirma suspensão de Paiva Nunes da Administração
Domingos Paiva Nunes, administrador da EDP imobiliária, pediu, ontem, a suspensão das suas funções naquela empresa. O seu pedido foi feito dois dias depois do de Armando Vara, no Millenium bcp.
Suspeito de ter beneficiado da oferta de um Mercedes SL 500 (avaliado em mais de 50 mil euros), por parte do sucateiro Manuel Godinho, por alegadamente facilitar concursos e adjudicações às suas empresas, Domingos Paiva Nunes deixará, após o seu pedido de suspensão de funções, de representar a empresa no exterior, desempenhando apenas tarefas no interio do grupo.
O seu pedido foi anexado ao processo instaurado pelas autoridades judiciais, em que é um dos 15 arguidos no processo "Face Oculta".
A empresa liderada por António Mexia confirmou a suspensão e anunciou que também abriu um processo de auditoria interna.
Engenheiro, Domingos Paiva Nunes, natural de Castelo Branco, deixou de trabalhar na década de 80 do século passado na empresa Teixeira Duarte. De 1994 a 1997, chegou a ser assessor na Câmara de Sintra, onde foi eleito vereador pelo PS, em terceiro lugar na lista liderada por Edite Estrela.
Exerceu então o cargo de vereador no mandato entre 1998-2001, ocupando o pelouro das Obras Municipais, o Trânsito, Parques, Jardins e a Requalificação Urbana.
Manteve-se, ainda, como vereador na oposição, até 2003, já no primeiro mandato do social-democrata Fernando Seara. Paiva Nunes transit, então, antes de chegar à Administração da EDP, para o sector da construção civil, na empresa Abrantina, agora do grupo Lena.