As chamas eram tantas e de tal forma violentas que os bombeiros tiveram de fugir. Uma e outra vez, os voluntários que combatiam as labaredas, ontem, em Valongo, foram obrigados a entrar nos carros e a descer a encosta a todo o gás para sair do alcance do fogo, que tingiu de negro os céus do Porto. Já noite, o fogo continuava a não dar descanso, a rondar edifícios junto à Quinta da Lousa.
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As mudanças de vento, repentinas, bruscas, sem aviso, dificultavam o trabalho de extinção das chamas. Durante horas, o incêndio lavrou, incontrolável, pelo monte. Durante horas, muitos populares, chinelos nos pés, acompanharam as labaredas e as operações de combate. E tornavam--se, eles próprios, mais um motivo de preocupação para os bombeiros. Além de tratar das chamas, era preciso estar atento para afastar os curiosos dos locais potencialmente perigosos. Sem noção do risco, houve quem se deixasse ficar, indiferente ao avanço descontrolado do incêndio.
Pedido de ajuda
No terreno, João Paulo Baltasar, vice-presidente da Câmara de Valongo, indignava-se. Serra acima e serra abaixo, via o incêndio consumir vasta área verde do concelho, sem que os mais de 150 bombeiros pudessem contar com auxílio de meios aéreos. Nem sinal de helicópteros. Nem sinal de aviões. Ao JN, o autarca contou que pediu os meios aéreos ao Governo Civil do Porto, mas que a resposta não foi a esperada: o incêndio de Valongo estava em lista de espera. "O helicóptero só dá até às oito da noite. Depois, acabou...", desabafou João Paulo Baltasar.
Mas os bombeiros, esses, não podiam esperar. Luta incessante nas três frentes - Alfena, Sobrado e Valongo - que mobilizaram 45 veículos e quase 200 homens, de várias corporações e entidades. Na hora de ajudar, as distâncias ficam ainda mais curtas.
O contingente foi aumentando ao longo do dia. O foco de incêndio que deflagrou numa zona de eucaliptos e mato rasteiro, em Alfena, rapidamente se alastrou a outras zonas da serra.
Foi tudo rápido, muito rápido. Em apenas cinco minutos, as chamas atravessaram o monte do Preto de um lado ao outro. Ali, onde frequentemente se reúnem os praticantes de BTT e de moto--quatro, as chamas dizimaram por completo a vegetação. Aliado do fogo, o vento soprava forte e não dava tréguas aos bombeiros. Apesar do esforço, foi consumida uma área florestal considerável. As contas ficarão para mais tarde. Até porque, à hora de fecho desta edição, o incêndio continuava por dominar.