Diretor diz que 15% das mulheres que vão à Clínica dos Arcos para abortar desistem
Cerca de 15% das mulheres que vão à Clínica dos Arcos para abortar desistem, revelou o diretor-geral desta unidade de saúde que em 2012 realizou o maior número de Interrupções de Gravidez (IG) em Portugal.
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Aberta há seis anos, desde que a IG foi despenalizada em Portugal, a Clínica dos Arcos realizou 5.607 interrupções em 2012, menos oito por cento do que no ano anterior.
A maioria das mulheres chegam à Clínica dos Arcos encaminhadas por hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), representando entre 80 a 85 por cento dos clientes desta unidade espanhola.
Mas nem todas ficam, como sublinhou o diretor-geral Rafael Coca: "Cerca de 15% das mulheres que vão à clínica optam por não continuar com a interrupção, desde que esclarecidas sobre os procedimentos pelos técnicos, psicológicos e assistentes sociais (na vertente social) e pelos médicos (na vertente técnica)".
Das mulheres que não avançam com a interrupção, Rafael Coca elege "o mais determinante para a sua decisão" a informação que é prestada sobre "os apoios à prossecução da gravidez".
Sobre a diminuição das IG na Clínica dos Arcos -- em 2012 registou-se uma descida a nível nacional de 7,6 por cento dos abortos -- o diretor-geral aponta várias razões, como a crise, as políticas de planeamento familiar, a diminuição do número de gravidezes e a despenalização desta prática, a que estudos científicos atribuem a redução das interrupções.
Além das utentes do SNS, encaminhadas pelos hospitais, outras mulheres recorrem à Clínica dos Arcos: naturais de países com legislações mais restritivas, como Irlanda, Angola, Brasil, as que optam pelo método cirúrgico, mas podem ter dificuldades em obtê-lo no SNS, e as que não querem ser atendidas onde a sua confidencialidade possa ser posta em causa, por proximidade geográfica.
" clínica do grupo em Badajoz -- que durante décadas recebeu predominantemente portuguesas -- chegam cada vez menos mulheres de Portugal. Contudo, ainda há porque em Espanha "o regime é menos restritivo", permitindo a IG após as dez semanas.
Rafael Coca sublinha que "todos os dias acedem à clínica utentes que ultrapassaram o limite legal da gravidez", as quais terão de cruzar fronteiras ou entrar num circuito ilegal e inseguro de IG para não levar a gravidez adiante.
"Em termos pessoais, sentir-me-ia mais confortável com uma lei que permitisse a despenalização até às 12 semanas", defendeu.
Rafael faz um balanço positivo dos seis anos de aplicação da lei do aborto, enaltecendo o facto da mulher poder decidir livremente e a segurança com que pode interromper a gravidez.
Uma mudança na sociedade portuguesa que continua a não ser aceite por algumas franjas e pessoas, como as que diariamente tentam influenciar as clientes da clinica com palavras e imagens "violentas" que mostram à entrada do estabelecimento.
"Preferia que não estivessem aí [em frente à Clínica]. Devem é respeitar uma mulher que está a decidir livremente, sem pressões, em relação à sua gravidez, seja para continuar ou para interromper", sustentou.
"Não respeitam estas utentes. Têm uma abordagem agressiva que passa pelos insultos até à violência que significa mostrar imagens de assassinatos de bebés. É um tema que transcende o ideológico, entra no domínio da ciência e não é da IG nos termos da lei portuguesa que estamos a falar. São imagens violentas que não representam o que é praticado pela clínica e é permitido em Portugal".
Dados da Direção Geral da Saúde, publicados na segunda-feira, indicam que em 2012 se realizaram 18.408 IG, das quais 29,6 por cento na Clínica dos Arcos.