Esperado aumento de consumo no Verão devido a maior necessidade de refrigeração.
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A energia é o retrato do ciclo vicioso das alterações climáticas. Por causa da queima de combustíveis fósseis para produzi-la (dependemos dela em 85%), temos efeito de estufa. E ela também sofre as suas consequências.
"Que faz a energia pelo aquecimento global? Faz tudo com a cultura do petróleo baseada na combustão que, pela sua dimensão, perturbou o ciclo do carbono", observa o especialista em energia e ambiente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Oliveira Fernandes, considerando que há uma "realidade física inquestionável", que é o "aquecimento global consequência das emissões de dióxido de carbono".
Na proposta de estratégia para as alterações climáticas, em discussão ate Julho passado, a Comissão Nacional sintetizava o problema, notando que elas terão efeitos no sector energético tanto do lado da procura de energia como do lado da oferta.
Do lado da procura, espera-se um aumento de consumo no Verão, devido a maiores necessidades de climatização dos edifícios, ocorrendo um decréscimo no Inverno, por causa da diminuição dos períodos com temperaturas baixas. Também se espera que o aumento da temperatura reduza os consumos em aquecimento e águas, devido ao eventual aumento da temperatura da água na rede.
Da lado da oferta da energia, há dois problemas. Um é a larga dependência da produção de electricidade com origem em centrais hidroeléctricas, que pode ser afectada pela diminuição do armazenamento nas albufeiras com a diminuição da quantidade de precipitação anual e o aumento da evapotranspiração, bem como pela competição exercida pelo abastecimento urbano e pela agricultura.
O outro problema é o uso de grandes quantidades de água para a refrigeração dos grupos produtores das centras termoeléctricas, não porque esse uso corresponda a um gasto, mas porque a água é devolvida ao meio hídrico a temperaturas mais elevadas, o que afecta a fauna, a flora e a qualidade desse recurso.
Esses problemas foram identificados e mesmo quantificados nos vários cenários traçados no projecto científico SIAMII - Alterações Climáticas em Portugal - Cenários, Impactos e Medidas, cujo relatório foi publicado em 2006 e cujas projecções se mantêm válidas (ver ficha Impactos Previstos).