<p>O advogado do Vaticano nos Estados Unidos considerou, ontem, sexta-feira, que a queixa-crime interposta contra Bento XVI, por uma das alegadas vítimas de pedofilia do padre Lawrence Murphy, não tem "qualquer fundamento" e visa um "ataque maior".</p>
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Jeffrey Lena afirmou que esta acção judicial "é uma tentativa de manipular acontecimentos trágicos para um ataque maior. A Santa Sé e os seus dirigentes de nada sabiam dos crimes do padre Murphy, décadas depois dos abusos".
Uma alegada vítima do padre Murphy entrou com uma queixa-crime contra Bento XVI e dois cardeais - o actual número dois do Vaticano, Tarcisio Bertone, e o que o antecedeu, Angelo Sodano -, acusando-os de nada terem feito para que Lawrence Murphy respondesse perante a Justiça. Este padre foi acusado de ter abusado de mais de 200 crianças surdas de uma instituição de Wisconsin, nos anos 50.
Segundo declarou à imprensa de Chicago o advogado da vítima, Jeff Anderson, a queixa "pede a demissão de todos os padres que feriram crianças e de todos os bispos e cardeais que foram cúmplices destes crimes".
Na acção refere-se ainda que Bento XVI recebeu duas cartas da vítima, em 1995, com o relato dos abusos e um pedido de ajuda, às quais nunca respondeu.
Recorde-se que no início de Abril, também nos Estados Unidos, três vítimas de abusos sexuais por parte de clérigos interpuseram acções judiciais, mas apenas contra o Vaticano.
Em Inglaterra, foram já várias as declarações de intenção nesse sentido, a última das quais a de dois escritores ateus - Richard Dawkins e Christopher Hitchens - que pretendem levar o Papa aos tribunais ingleses.
A questão que se levanta em relação ao Papa é saber se Bento XVI é efectivamente um chefe de Estado e pode, nessa qualidade, evocar imunidade para não responder à Justiça americana.
José Augusto Rocha, advogado com experiência em direitos humanos (foi presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados), considera que não.
Mas, independentemente dessa "controvérsia", defende que a pedofilia deveria ser incluída nos crimes contra a humanidade - crimes que não prescrevem dadas as suas consequências sobre os povos ou as pessoas.
Se vier a ser chamado perante a Justiça americana ou outra, Bento XVI responderá enquanto cidadão pelo crime de encobrimento ou cumplicidade.
Uma outra hipótese seria um julgamento no Tribunal Penal Internacional, como também ponderam os escritores ingleses, mas para isso seria necessário o consenso dos vários estados, o que, segundo José Augusto Rocha, não será fácil de alcançar.
* COM AGÊNCIAS