Este sábado, é inaugurada no Porto a exposição "João Silva-Afeganistão". O Centro Português de Fotografia exibe dezenas de imagens captadas pelo repórter naquele cenário de guerra. Em destaque, os momentos que se seguiram ao acidente em que perdeu as pernas, em 2010.
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Gente e guerra, ódio e morte. Um sorriso. Este poderia ser o resumo do que se vê nas 49 imagens que, a partir das 16.30 horas, estarão expostas na antiga cadeia da Relação. Mas há muito mais nas fotografias de João Silva: desde logo, uma dor silente escondida atrás de um tríptico, no hall da sala Aurélio da Paz dos Reis.
Tão célebre quanto dramática, essa sequência de três fotos relata os momentos que se seguiram ao rebentamento da mina que o deixou gravemente ferido e amputado. Estava na província de Kandahar. Era o dia 23 de Outubro de 2010 e poderia ter sido o último. Antes "de ficar demasiado fraco para segurar na câmara", como se lê na legenda, João fotografou.
Lisboeta ao serviço do jornal "The New York Times" a partir da África do Sul, onde vive desde miúdo, João Silva esteve por diversas vezes no Afeganistão. E em vários outros territórios marcados por conflitos bélicos, embora não se considere um fotógrafo de guerra, como uma vez disse ao JN.
Mas a guerra está lá, mesmo quando não se vê, o que torna a exposição dura. Como quando olhamos para uma criança esquelética e de feições belas a ser tratada por um médico britânico, em Sangin. Sabemos que está ferida e vemos o vermelho de um manto. É como se fosse sangue.
No texto que escreveu a propósito da exposição, João Silva destacou como "fascinante, quase beatífico" o momento em que fotografou Ahmad Shah Massoud, líder da oposição ao regime talibã que viria a ser assassinado a 9 de Setembro de 2001. João chegou-se perto, num momento de oração em Charikar, no ano de 1999.
Ao contrário dos soldados envolvidos na segunda guerra anglo-afegã e a que o poeta inglês Rudyard Kipling se referiu, este João sem medo não ficou à mercê das facas das mulheres afegãs, naquele 23 de Outubro: "Estou vivo". Meses depois, quando já andava com a ajuda de próteses, dizia-nos que o acidente "podia ter sido muito, muito pior".
Patente até 25 de Março, esta mostra teve origem na edição de 2011 do festival "Visa pour l'image", em Perpignan, França. Mas a primeira vez que João Silva teve trabalhos expostos em Portugal foi em 2008, numa iniciativa levada a cabo pelo JN, no Porto, sob o título "Pesadelo".