Quanto tempo um hospital deve aguentar-se com geradores? Não está definido, mas tem de ser pensado
Os hospitais mantiveram-se em funcionamento durante o apagão de segunda-feira dando resposta aos casos críticos, mas houve momentos de tensão por causa da autonomia dos geradores. Quanto tempo é suposto aguentarem estes equipamentos a gasóleo alternativos à corrente elétrica? Não está definido, mas importa refletir.
Corpo do artigo
A Direção Executiva do SNS (DE-SNS) reconheceu, esta terça-feira, que as maiores dificuldades sentidas ontem no SNS foram ao nível do abastecimento de combustível para os geradores, nomeadamente no Hospital dos Capuchos e na Maternidade Alfredo da Costa.
A necessidade de substituição de um gerador na Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda também motivou preocupação, mas todas as situações foram solucionadas, informou a DE-SNS, num comunicado em que agradece o esforço e a dedicação de todos os profissionais e assegura que o SNS soube responder à crise e às necessidades da população.
Também o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, contou que houve alguns momentos tensos na segunda-feira por causa da necessidade de reabastecimento de combustível para os geradores dos hospitais, pois nem todos tinham a mesma autonomia.
“A partir do momento em que aconteceu a falha, todos os hospitais começaram a tentar perceber qual era a sua autonomia, qual a quantidade de combustível que tinham em ‘stock’, e as situações não eram iguais. Tínhamos hospitais com ‘stocks’ mais pequenos e, portanto, com menos capacidade de aguentar os geradores até mais tarde”, explicou o responsável, em declarações à Lusa, admitindo que foi "um processo muito tenso". "Quando se percebe que os geradores têm um prazo expectável a partir do qual irão parar, não tendo a certeza de que vai ser reabastecido, é sempre um momento muito tenso”, contou.
Explicou igualmente que os hospitais, quando perceberam o que estava a acontecer, “desligaram todas as áreas que não eram críticas”, como as consultas, o ambulatório, hospitais de dia e áreas de apoio, como lavandarias e cozinhas, para guardar energia para a resposta aos doentes críticos.
Trabalho para as próximas semanas
Mas afinal qual deve ser a autonomia dos geradores dos hospitais? Varia consoante a dimensão das unidades e diferenciação? "Nada está definido e é uma discussão que deve ser feita", responde, ao JN, Xavier Barreto.
Salientando que não é especialista em redes elétricas, o presidente da APAH assume que ouviu com preocupação alguns peritos avisarem que situações como a ocorrida na segunda-feira podem repetir-se e ter uma duração superior. "Quanto tempo deve aguentar um gerador [de um hospital] e como garantimos esses abastecimentos é uma discussão que devemos fazer", defende Xavier Barreto, recomendando que este trabalho seja realizado nas próximas semanas.
Da mesma forma, entende que devem ser planeados simulacros para situações de perdas de energia prolongadas, de forma a antecipar a organização e resposta dos hospitais para este tipo de crises.
Referindo-se à generalidade dos hospitais, Xavier Barreto sublinhou que "ontem a resposta foi boa". " A maior parte dos hospitais reagiu bem, os conselhos de administração tomaram boas decisões, lógicas e sempre em articulação com a DE-SNS e com o Governo, que “assumiu desde logo a prioridade de abastecer os hospitais e abastecer de forma prioritária os que não tinham ‘stocks’ de combustível ou tinham stocks mais ‘baixos’”.