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Enquanto boa parte do Mundo assiste com falsa incredulidade ao escalar da guerra no Médio Oriente em dias tenebrosos que não parecem ter fim ou solução à vista, os jogos de compromissos em relação ao Orçamento do Estado para 2025 são apresentados em trinta minutos num encontro entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos. Com fim para hora marcada. Menos uma hora do que o encontro da semana passada parece ter sido suficiente para armar uma solução de cedências e ganhos relativos que não desculpem uma eventual tentação de não viabilização do Orçamento. Ao colocar no PS a pressão da insustentabilidade de uma nega orçamental, o discurso de Luís Montenegro foi exímio.
Diálogo e mais diálogo. Montenegro mostra toda a disponibilidade mesmo para afinar caminhos com o Partido Socialista relativamente a algumas questões orçamentais que ainda mereçam aprimoração. Montenegro vai, assim, ao encontro do país que procura, o da estabilidade que não entende uma crise artificial. No plano da retórica, uma evidência. Mas na análise das propostas, a aproximação é menos musculada. Se Pedro Nuno Santos for literal e firme em relação ao que já afirmou, terá todas as razões para recusar o Orçamento. Tanto no IRS Jovem como sobretudo no IRC, a aproximação do Governo fica muito longe do que o PS pretende. O meio termo é relativo. Se essa aproximação pode ser adensada no âmbito do IRS Jovem, já é muito difícil conceber que Pedro Nuno Santos possa dar o dito por não dito em matéria de IRC.
Poderão ambos ficar contentes e contraditórios com a redução do esforço financeiro do Estado relativamente ao IRC (em 1% em 2025) e ao alargamento do âmbito de aplicação do IRS Jovem para todos os jovens, aumentando o seu período temporal? Talvez o igual e o seu contrário vinguem em sede de audácia orçamental, mas o que parece ser um compromisso está muito mais perto da sedução pelo engodo. O sentido de Estado do Governo procura encontrar um culpado e Pedro Nuno Santos, ao remeter-se ao silêncio, não instala a sua narrativa, permitindo que o primeiro-ministro seja o primeiro e o último a falar. Para um Orçamento que se debate mais no plano da retórica e da táctica do que nas reais propostas diferenciadoras, não terá sido o melhor plano de jogo.
Quem assistiu ao combate no Parlamento pouco tempo antes da reunião de ontem, terá ficado com a ideia de que não haveria possibilidade alguma de entendimento. A crispação, a violência argumentativa, o extremar de posições. O primeiro-ministro que depois aparece em tom conciliatório e dialogante foi “dois em um” no espaço de poucos minutos e colocou os vários Pedro Nuno Santos a falar entre si. Sem falar para todos.
O autor escreve segundo a antiga ortografia