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Tenho acompanhado, com muito empenho cívico, o trabalho que o José Manuel Pavão tem desenvolvido no âmbito da Associação Ponte Maria Pia no sentido de preservar esse magnífico e importante património cultural.
Pensada e planeada por Gustave Eiffel, o mesmo que construiu a Torre símbolo de Paris, a ponte serviu, durante quase um século, a Linha do Norte, entre o Porto e Lisboa. Foram sucessivas gerações, desde 4 de novembro de 1877 até 24 de junho 1991, que acompanharam e atravessaram, de modo lento e cauteloso, a ponte que muitos consideravam já sem condições de segurança.
Substituída pela Ponte de S. João, assim chamada pela sua data de inauguração, a Ponte Maria Pia ficou, a partir dessa altura, votada ao abandono e esquecida pelo poder político. Aprendeu a unir duas cidades, soube criar os laços de união entre as duas margens do Douro e não merecia este tratamento de sucessivos atrasos pela sua reabilitação e abertura ao público dando cumprimento à sua missão de serviço.
Dos muitos momentos de reflexão, envolvendo gente de todos os quadrantes políticos e associativos, a ponte não pode ficar abandonada num momento que tanto dinheiro chega a Portugal e que alguns governantes enchem a boca com a ferrovia.
A Ponte Maria Pia é monumento nacional desde 1982 e o exemplo vivo da história do caminho de ferro em Portugal. Merece assim uma nova oportunidade.
A Associação dos Amigos da Ponte Maria Pia pode e deve tomar a iniciativa de sensibilizar os poderes públicos, com uma proposta exequível, que permita à ponte ganhar de novo vida e servir quem dela pode vir a usufruir.
Ficamos a saber pelo site das Infraestruturas de Portugal que é esta empresa pública que realiza os trabalhos de manutenção da referida ponte. A primeira conclusão é que existem verbas e condições para tratar da sua manutenção. Vamos então procurar um programa para a ponte e uma entidade para a gerir. O programa parece-me que poderá assentar na criação de uma ponte para peões a cota alta e ao mesmo tempo ser uma ciclovia que permita atravessar o Douro naquela posição. Esta entidade gestora do espaço poderia englobar as Infraestruturas de Portugal, que manteriam a propriedade da ponte, as duas autarquias e a Associação dos Amigos da Ponte Maria Pia. O programa poderia passar por assumir um roteiro turístico-cultural onde se podia ficar a conhecer melhor a importância deste monumento do ferro e relembrar o papel do seu criador, personagem da qual a cidade de Paris sabe viver e homenagear.
Ficam aqui algumas sugestões e esperamos que os leitores se juntem à Associação com vista a obrigar o poder político a tomar uma decisão. Afinal, 30 anos é mais do que tempo para tomar decisões. Chegou a hora.
*Professor universitário de Ciência Política