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Após mais algumas investidas sem qualquer fundamento, eis que o programa da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento vê o seu conteúdo programático alterado em nome do “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay” sem que haja uma qualquer evidência que nos mostre que devia ser alterado. Sem que haja um caso – e que houvesse, um, dois, três casos – que sustente a alucinação que tomou conta de uma horda de falsos puritanos, vítimas carpideiras do espírito “woke” que não se encontra no programa da disciplina, mas que cada vez mais lhes corre no sangue como se o encontrassem num circuito com um percurso invertido e perverso nas veias.
O “wokismo” é agora um património dos herdeiros dos chalupas do chicote, dos demagogos da desinformação e da mentira, dos recalcados ou tacticistas que abrem portas à extrema-direita, numa espécie de ritual xamânico a um deus desconhecido que prefere não falar do respeito pela diferença e pelas opções individuais, nem sobre o crescimento da violência no namoro e os direitos das mulheres, nem sobre a sexualidade e a contracepção ou acerca das doenças sexualmente transmissíveis. Para muitos, é preferível uma gravidez indesejada do que um mau investimento em bitcoins.
A ideologia de género é assim um manto de pasto delicioso para a desinformação e para os criadores de mitos urbanos. Na realidade, é toda ela um género de afectação para os sectores mais retrógrados (porque nem é de conservadorismo que estamos a falar) que nela encontram um farol de senso (pouco) comum que acrescenta esteróides e alucinação ao lugar da liberdade. Passou a ser um tique misógino promovido a cartão de salvação de identidade.
Como referia Rui Moreira, com clareza e lucidez, é preferível que as crianças aprendam sobre sexualidade na escola do que no TikTok. Acrescento eu, que tenham na escola o contraponto para aquilo que desaprendem nessa e noutras redes sociais, numa viagem que é hoje orientada pela facilidade e desinteresse, a soldo de um algoritmo que lhes coloca à frente os piores exemplos de escapismo, violência emocional e desinformação. Sem tempo. Sem verdade. Sem informação. Sem fontes. Sem conhecimento. Sem pensamento. Sem hipóteses.