Tame Impala fecham a segunda noite do festival com nota artística alta: está encontrado o melhor concerto dos dois primeiros dias na encosta.
Corpo do artigo
85 minutos com encore intenso e vários momentos disparados ao coração e que são aqueles que vamos recordar daqui a anos quando discutirmos tops dos melhores concertos de Coura: "Let in happen", a canção que é o "Let it be" de outra geração e foi logo a segunda, o que pareceu como um inesperado golo prematuro para festejar, p"Elephant" num pico altíssimo, "Backwards" em coro com todos os braços no ar e a rendição total de Kevin perante a massa deúblico que o venerava pelo novo som.
Coura estourou com o novo disco dos Tame Impala, "Currents", que abre o psicadelismo e fala das separações a partir do boom de uma pista de dança e de um novo revival que avança de 70 para 80 e aumenta a velocidade. Vimos o primeiro concerto da longa tournée em que os Tame Impala vão agora conquistar a Europa. Vale a pena dizer obrigado por isso. A nota artística da reserva do rock voltou ao lugar que merece.
Father John Misty abençoa Coura
Às 21h25 desta quarta-feira, brioso e pontual, Father John Misty, o pastor pop folk de Rockville, EUA, voz fundadora dos grandes Fleet Foxes, longa barba espessa e fofa em baixo e fato preto, subiu ao palco e viu um cenário de fazer soltar sentido um "uau!". Era o ambiente da comunhão, plateia confortavelmente apinhada, já cá estão as 25 mil pessoas e todos os que vieram para depois ver, daí a três horas, o prato e o tempero da noite: Impala domada com "disco ball" e psicadelismo "on the side".
Ao primeiro acorde de "I love you honeybear", o público já estava rendido à consagração de Joshua Tillman, o verdadeiro nome de Father John Misty, que tem 34 anos e parece mais velho. Foi um concerto meigo e formoso, em sexteto ameno, com guitarras acústicas, piano e bateria amena, um clima para dar as mãos ou embalar sentado, com luzes brancas a bailar em prisma no palco grande que se enchia de vermelhos e azuis, cheio de "oh oh ohs" e belos jogos florais de folk.
Uma imagem vai ser difícil de apagar da memória: antes de nos ter posto a cantar em coro o "Bored in the USA" numa balada irónica de sentido difamo, acenderam-se milhares de isqueiros na encosta (isqueiros, sim, à moda antiga, também alguns ecrãs brancos de telemóveis, mas uma maioria de isqueiros de chama amarela a tremular no ar pela encosta abaixo como se estivéssemos ainda no século XX) e toda a pradaria pareceu um rigoroso altar de culto. Aqui, em Coura, música é religião.
Paulo Furtado, que chegou aqui a Coura para nos aquecer para os Tame Impala e veio em quarteto assanhado, engrandecido como sempre, teve aqui a maior plateia da sua história? Tivemos todos: no primeiro dia éramos 23 mil de contagem oficial, no segundo superamos os 25 mil e o resort rock do Vodafone Paredes de Coura 2015 está oficialmente esgotado.
O Legendary Tigerman de Coimbra, impecável fato preto e sapato branco, óculos à Cobra a cair, vagamente insolentes, que não foi um erro de casting mas uma aposta astuta, teve o público na mão, acarinhou-o e atirou-o cheio de energia para a berma electrificada de suor do roadhouse blues roufenho mas tocado com a precisão exemplar da tradição. Terminou em síncope, num delíquio todo irado, a gritar-nos mil vezes "rock and roll!" até ficar com a voz vermelha. Saiu debaixo de uma cascata que lhe estendemos todos aos pés a escorrer de merecidas palmas. O Tigerman deu tudo mesmo tudo para merecer o maior palco.
Festim dos Pond contamina Coura
Já aconteceu, foi no segundo concerto do segundo dia, no palco pequeno Vodafone FM: finalmente dançou-se plenamente com o coração. A primeira detonação dessa alegria foi com os Pond e uma festa psicadélica pegada, a tenda a abarrotar e a deitar gente por fora, com povo até ao fundo do caminho, muitos desesperados para (não) conseguir furar até à frente e mergulhar no olho daquele furacão. "We"re fucking happy to be here!", exclamou Nick Allbrook, o vocalista, radiante com o habitat natural do Vodafone Paredes de Coura 2015: "Espero que tenham ido todos ao rio, é incrível!" - e o povo respondeu em bruá, braços levantados no ar. Foi entre essas guitarras afiadas pela nova psicadélica, e funk e folia space glam que se viu o primeiro mosh a sério, isto é sentido dentro do remoinho da energia do som, com o público da frente a estalar em polvorosa. Têm de voltar, os Pond e para um palco evidentemente maior.
Foi o primeiro êxtase pré-Tame Impala. A propósito: o efeito de contaminação da banda de Kevin Parker acabou de se estender a todos os dias do festival: Coura 2015 está oficialmente esgotado, reporta a organização, e já não há qualquer tipo de bilhetes à venda - quem entrou, entrou, quem não conseguiu ingressos oficiais até agora, já não os vai conseguir.
Para algo completamente diferente, apareceram antes dos Pond, e a abrir o palco principal, os bracarenses Peixe Avião, que parecem melhores e mais benignos do que os também portugueses Linda Martini. O seu kraut pop é lamurioso, lento e fadista e também eles planam no psicadelismo. Têm já três discos e continuam a expandir o seu expressionismo sónico de combustão lenta e são uma banda para continuar a seguir. A encosta estava meia vazia, ou meia cheia, o que foi pena (mas o sol ia alto e radiante àquela hora e talvez já estejam todos a consumi-lo em antecipação: a previsão atualizada do tempo agora dá chuva e descida de 10 graus na temperatura no sábado e no domingo) com o público sentado a serpentear como num puzzle entre a sombra e o sol.