Estrela pop planetária, Justin Timberlake provou o seu valor - se dúvidas ainda restassem - e deu um espetáculo arrebatador no Parque da Bela Vista, encerrando com distinção a 6.ª edição do Rock in Rio Lisboa.
Corpo do artigo
Num panorama musical onde não faltam fenómenos pop a eclodir quase diariamente, Justin Timberlake é uma revelação com quase 20 anos de carreira. Depois de anos de espera para o ver em Portugal, os fãs receberam o cantor norte-americano com uma ovação, assim que o músico pisou o palco.
"Pusher love" aqueceu as turbinas da imensa multidão, 80 mil, número que parece ter impressionado o próprio cantor. Apreciou a massa que se estendia à sua frente, levou a mão ao peito, num gesto de sentido agradecimento. "Gimme what I don't know i want", também do último disco, "The 20/20 Experience" (2013), abriu caminho a "Rock your body" e "Future Sex/Love Sound", introduzida por "Don't hold the wall".
Justin Timberlake, mais do que um concerto, apresenta um espetáculo meticulosamente estruturado: as canções fluem e fundem-se, ganham uma nova vida; as coreografias parecem orgânicas, como se se tratasse apenas de mais um par de notas a adornar cada canção. Tudo faz sentido.
"Like I love you" colou-se a "My love" e a uma longa "TKO" recheada de passos de dança, com Timberlake a acompanhar os bailarinos de forma exímia. O público responde com total entusiasmo, domina as letras, vibra à chegada de cada nova canção. "Estão a gostar desta noite?", questionou o cantor. "Vocês são lindos!"
Timberlake entra sorrateiramente, a capella, numa estrondosa "Summer love", e "Love stoned" foi precedida de um pedido especial: "liguem as luzes e os telemóveis". E o recinto iluminou-se como numa gigantesca vigília.
"Cry me a river" e "What goes around...comes around" protagonizaram alguns dos momentos altos de uma noite que evocou ainda os The Jacksons ("Shake your body"), Elvis Presley ("Heartbreak hotel") e Michael Jackson ("Human nature").
"Querem ir já para casa?", perguntou no final de quase duas horas de concerto. A resposta foi rotundo "Nooooo". Não sem "Sexy back" e "Mirrors" incendiarem o recinto e Justin Timberlake se despedir com vénias e acenos de uma multidão rendida.
Antes de Justin Timberlake atuar, Jessie J entusiasmou o público com um espetáculo pop de grande calibre, como o público português já havia comprovado há dois anos no Sudoeste.
A cantora britânica está mais sofisticada, mas não perde a irreverência e genica em palco. Com novo disco na bagagem, "Alive" (2013), entrou com "Sexy lady", fazendo jus ao título da canção. Vestido curto (muito curto) a revelar-lhe as longas pernas, gestos impregnados de sensualidade reproduzidos na frente do palco.
"Domino", single do disco de estreia, apareceu com novas roupagens mas com o mesmo efeito contagiante do orginal, cativando a multidão que enchia o anfiteatro natural do Parque da Bela Vista. "It's my party" e "Sweet Talker" são algumas das estrelas de "Alive", mas é "Nobody's Perfect", canção escolhida para enviar um agradecimento a Justin Timberlake, que toca a plateia: "Quando saiu o meu primeiro disco, era estranho ser reconhecida na rua. E ele um dia disse que eu era uma das melhores cantoras do mundo e isso deu-me confiança. Obrigada Justin!".
Timberlake voltaria a ser referido em "Keep us together", a canção que Jessie J confessou que gostaria de partilhar com a estrela norte-americana. Os ânimos serenaram com um momento acústico, Jessie J de pernas sossegadas e sentada ao lado do coro, dando voz a "Conquer the world" e "You don't really know me", entrecortadas por um excerto de "Wonderwall", dos Oasis.
O lado atrevido e combativo de "Excuse my rude" e "Do it like a dude" contrastaram com a doçura que, minutos antes, demonstrara para com um fã emocionado ao ouvir "Who you are" com a jovem estrela pop por perto. Ele chorou, ela segurou-lhe a mão, cantou para ele, enxugou-lhe as lágrimas.
Segundos depois já percorria de novo corredor entre o público com toda a garra. Um autógrafo aqui, uma "selfie" em movimento com a câmara de um fã ali, cachecol de Portugal transportado no pescoço até ao palco.
Para o final reservaria "Price Tag" - uma das músicas favoritas dos concursos de talentos -, obrigatória para encerrar a segunda passagem por Portugal.
Com um recinto que ia enchendo com o cair da noite, o público recebeu o hip-hop do norte-americano Mac Miller. O rapper deu mostras de contentamento por estar frente a tamanha multidão e não perdeu a oportunidade para desafiar e incentivar o povo para dançar desta ou daquela forma. E milhares responderam ao apelo, apesar de o cantor ser, aparentemente, um desconhecido para a maioria.
Mac Miller aproveitou a sua estreia em Portugal para apresentar uma série de peças do recente "Watching movies with the sound off", disco lançado há menos de um ano. A julgar pelas reações, o norte-americano ganhou uma quantidade significativa de fãs.
Ao final da tarde, João Pedro Pais dividiu o palco com Jorge Palma. O autor de "Bairro do Amor" só fez a sua aparição a metade do concerto. Antes, João Pedro Pais distribuiu um punhado de canções da sua escola do Rock FM como "Fora do Vulgar", mas foi a partir da entrada de Palma que os aplausos ganharam intensidade. Os dois - com banda - investiram no clássico "Frágil" e partilharam as vozes em "Encosta-te a mim". Para o final voltou-se ao material de Pais com "Mentira" e "Nada de Nada".
No último dia de Rock in Rio, os concertos no Palco Mundo começaram mais cedo, às 17.30 horas, com a jovem cantora Kika a apresentar-se para uma plateia já composta. Quase todos os que lá estavam guardavam lugar para o concerto de Justin Timberlake.
Kika - que dá voz ao tema de apoio à Seleção Nacional para o Mundial de 2014 - apresentou as canções do seu disco de debute, "Alive", fazendo sucesso junto do público com os singles "Guess it's alright" e "Can't feel love".
A edição de 2014 do Rock in Rio chegou ao fim este domingo, depois de a "cidade do rock" ter recebido mais de 345 mil pessoas durante os cinco dias do evento. O Rock in Rio regressa a Portugal em 2016.