Leonor Silveira: "É preciso transformar casas-abrigo em proteção, renascimento e autonomia"

Atriz Leonor Silveira interpreta Madalena, uma vítima de violência doméstica na nova série da RTP1 "Casa-Abrigo"
Foto: Divulgação RTP
Na nova minissérie da RTP1, "Casa-Abrigo", que se estreou esta segunda-feira à noite, 27 de outubro, Leonor Silveira dá vida a Madalena, uma mulher fugida a uma relação violenta. A propósito da personagem, a atriz revela o que considera essencial mudar nesta realidade para que as mulheres consigam, após a primeira ajuda, recompor as vidas delas.
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Sendo uma "resposta essencial" e "necessidade real num mundo onde a violência doméstica é um verdadeiro flagelo social e cada vez mais acentuado", Leonor Silveira defende que as "casas-abrigo deixem de ser vistas como soluções temporárias e isoladas". "É preciso transformá-las em espaços não só de proteção, mas também de renascimento e autonomia", pede a intérprete,
A propósito da estreia de Casa -Abrigo, minissérie de seis episódios da RTP1 que retrata a realidade de mulheres que escaparam a relações marcadas pela violência doméstica, refugiando-se numa casa-abrigo, a atriz - que dá vida a Madalena, uma dessas vítimas - vinca que "muitas saem destas instituições sem apoio para reconstruir a sua vida, voltando a situações de risco por falta de alternativas".
"Estas estruturas têm como missão garantir proteção e segurança imediata, mas o seu funcionamento e modelo de atuação precisam de ser repensados para irem além da mera resposta emergencial para uma lógica de empoderamento duradouro", insta a atriz.
Leonor Silveira diz ser "necessária e urgente" a "criação de planos de apoio individualizados, que incluam formação profissional, apoio psicológico, habitação e integração no mercado de trabalho". Reivindicações que não ficam por aqui. "As casas-abrigo devem tornar-se mais inclusivas: mulheres migrantes, vítimas LGBTQIA+, pessoas com deficiência e homens", refere, em entrevista por escrito à Delas.pt. De acordo com os dados do segundo trimestre deste ano, publicados no Portal da Violência Doméstica, da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, estavam acolhidas nesta rede de casas com moradas secretas - para fuga aos agressores - 1401 pessoas, das quais 733 mulheres, 643 crianças e 25 homens.
Nesse sentido, e a propósito da estreia da minissérie, Leonor Silveira crê que "as respostas das casas-abrigo devem ser adaptadas à diversidade das vítimas, com equipas preparadas e sensíveis a diferentes realidades". E acrescenta: "Outro ponto crucial é a fiscalização e a transparência no funcionamento destas casas. Sendo financiadas, em muitos casos, com dinheiros públicos, é essencial que existam mecanismos regulares de monitorização externa." "Isto garante que os direitos das vítimas sejam respeitados e que a resposta oferecida seja ética, eficaz e humana", argumenta.
Atrizes Filomena Gigante, Leonor Silveira e Maria João Pinho na série da RTP1 "Casa-abrigo"
Pede ainda que se valorizem os profissionais que prestam apoio a estas vítimas fugidas das suas vidas porque - considera - "valorizar estas equipas - psicólogas, assistentes sociais, educadoras - é também valorizar as vítimas".
A história que chega agora à antena da estação pública e à RTP Play, realizada por Márcio Laranjeira, foi inspirada em histórias verídicas de mulheres que viveram na pele a violência doméstica e incluiu a visita a algumas dessas estruturas em funcionamento através da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.
Mas antes de ter chegado ao pequeno ecrã e ao grande público, a minissérie foi exibida no festival IndieLisboa, em maio deste ano. E se ainda é cedo para reações globais, Leonor Silveira fala em "grande comoção e imensa emoção" por parte de quem assistiu aos primeiros dois episódios naquele festival Internacional de cinema. "A mensagem que as cinco mulheres [retratadas nesta produção] trazem com elas cobre o espetador de forma muito perturbadora devido a sua absoluta verdade e simplicidade", conclui a atriz.
A trama baseada em factos verídicos conta com também com as atrizes Maria João Pinho, Rita Cabaço, Filomena Gigante e Ana Sofia Martins nos principais papéis.

