Casos de violência e ameaças levam a que 40% dos jovens árbitros desistam da atividade logo no primeiro ano. Presidente da APAF culpa o "topo da pirâmide".
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O clima de insegurança que se tem vivido no futebol português, nomeadamente, mas não só, nos escalões de formação, está a provocar um aumento da taxa de abandono dos jovens árbitros. Ao que o JN apurou, 40% dos juízes entre os 16 e os 18 anos desistem da atividade logo no primeiro ano em que a estão a desempenhar.
Os casos de violência e de ameaças protagonizados por pais, avós e, muitas vezes, pelos próprios intervenientes nos jogos, mesmo aqueles com idades mais baixas, são os principais motivos para essa desistência da atividade de apitar partidas de futebol.
"A insegurança está a influenciar o abandono de muitos jovens árbitros. A pirâmide do futebol português está invertida e os exemplos que vêm de cima não são os melhores, como se tem visto. Enquanto esta imagem que vem do topo do futebol nacional não mudar, isto vai continuar a acontecer", afirma ao JN Luciano Gonçalves, presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), que tem estado em foco ao longo dos últimos dias, em função das posições tomadas relativamente aos casos muito polémicos que estão a abalar as principais competições profissionais de futebol em Portugal.
Queixas em tribunal
De acordo com o dirigente máximo da APAF, muitos casos de violência e de ameaças já motivaram diversas "queixas em tribunal" dos jovens árbitros, que, antes da pandemia, lidavam semanalmente com comportamentos muito questionáveis, não só dos jogadores, mas também dos familiares que assistiam aos jogos, com insultos e pressões constantes. Recorde-se que, por exemplo, um árbitro de 16 anos só pode apitar partidas do escalão de sub-16 para baixo, os de 18 anos só podem apitar jogos do escalão de sub-18 para baixo, e assim sucessivamente.
Outro fator que, nos últimos tempos, tem levado ao aumento da taxa de abandono da arbitragem ao nível da formação está relacionado com o facto de, nos distritos do interior do país, existirem poucos árbitros para muitos jogos de competições oficiais. Isso fez com que, aos fins de semana, os jovens juízes tivessem de apitar várias partidas, o que tornava a atividade muito cansativa.
Reunião na próxima semana
A APAF solicitou uma reunião ao secretário de Estado do Desporto para analisar as recorrentes ameaças sofridas pelos árbitros, numa situação que teve em Luís Godinho a última alegada vítima, e João Paulo Rebelo revelou ontem que vai receber a associação liderada por Luciano Gonçalves na próxima semana. O secretário de Estado disse que, na referida reunião com a APAF, irá concluir "onde é que a intervenção do Governo pode ser útil e pertinente".