"Casuals" são um subgrupo opaco dentro das claques disposto a praticar ações violentas contra adeptos de clubes rivais. PSP admite crescimento do fenómeno.
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São um grupo dentro do grupo. Uma subcultura quase secreta marcada pelas ações violentas contra adeptos de outros clubes. Os chamados "casuals" estão a crescer em Portugal e as autoridades têm sinalizados cerca de 500 destes adeptos informalmente organizados, repartidos por cinco dos principais emblemas desportivos nacionais. No atual clima de tensão e violência no futebol, as autoridades redobram a vigilância.
Já protagonizaram tentativas de homicídio, agressões, danos, vandalismo e furtos. Os mais mediáticos foram os casos da invasão da Academia do Sporting, em 2018, e os crimes recentemente imputados a 37 adeptos do Benfica, pelo Ministério Público (MP), no âmbito do processo "Sem Rosto" (ver página seguinte). Entre os detidos destas investigações estavam vários "casuals" do topo da hierarquia.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, só em Lisboa estão referenciadas de duas a três centenas de adeptos violentos repartidos entre Benfica e Sporting. No Norte, entre os apoiantes do F. C. Porto, serão uma centena e há cerca de 50 elementos das claques do Vitória de Guimarães e do S. C. Braga considerados radicais.
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Inseridos na sociedade
Nem todos os "casuals" são violentos e os 500 referenciados serão "apenas" os mais perigosos. Muitos deles estão bem inseridos na sociedade, mas o crescimento do fenómeno levou a PSP a estar mais atenta. "Com a consolidação desta subcultura, atualmente são caracterizados por um forte antagonismo e pela inexistência de diálogo para com as forças policiais", explicou fonte oficial daquela Polícia que, "através das unidades de informações desportivas, desenvolve, quotidianamente, um trabalho de acompanhamento do fenómeno e de identificação dos integrantes desta subcultura com o objetivo de sinalizar precocemente potenciais alterações da ordem pública ou outras situações de índole criminal".
Na época passada, apesar do encerramento dos estádios ao público devido ao contexto pandémico, a PSP registou vários casos de violência entre "casuals", que continuam a marcar raides de "caça". "Num dia em que jogue um rival, junta-se uma dezena de indivíduos e vão à procura de adeptos rivais", explica a fonte.
Ficam com troféus
No recente processo que visou indivíduos ligados aos No Name Boys, do Benfica, foram detetadas trocas de SMS em grupos restritos e em meios encriptados, a dizer: "Quem quer andar à caça aos lagartos". Numa ocasião, deixaram inanimado no chão um adepto do Sporting que trajava de verde e branco, na zona de Alvalade. Partiram-lhe o maxilar e o nariz e roubaram-lhe o telemóvel e o cachecol. "Este tipo de adereços fica como troféu", adiantou ao JN uma fonte ligada a investigação de crimes entre claques.
E é dentro dos grupos organizados de adeptos que é feito o recrutamento de novos "casuals". "Os mais novos são geralmente usados para cometer os ilícitos porque são menos conhecidos das autoridades. Só depois de mostrarem serviço é que começam a ganhar o respeito do grupo. E só após participarem em algumas agressões é que são aceites e têm a confiança dos pares", adiantou a mesma fonte, precisando que "há um caminho, uma espécie de iniciação para fazer parte do grupo".