Canadianos vão ao Catar e o treinador inglês é o primeiro a apurar seleções femininas e masculinas para Mundiais.
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Nasceu numa cidade minúscula, foi professor primário, aventurou-se no boxe e trabalhou na formação do Sunderland. De 1975 até 2001, não saiu de Inglaterra. E, no entanto, até há bem pouco tempo era um perfeito desconhecido por lá. Na Nova Zelândia, pelo contrário, não só era conhecido como respeitado e uma década no Canadá fez dele a maior eminência futebolística do país e a principal razão de a seleção canadiana estar de volta a um Campeonato do Mundo, mais de 36 anos da primeira e última vez.
Por detrás da aura heróica que John Herdman tem hoje, está uma história de vida e uma carreira incomuns. Quando emigrou para a Nova Zelândia, com 26 anos, aproveitou o cargo de treinador numa equipa regional para chamar a atenção dos dirigentes federativos. Foi formador de treinadores, diretor de desenvolvimento e treinador de seleções femininas, primeiro a de sub-20, que apurou para dois Mundiais, depois a principal, que, em 2008, apareceu pela primeira vez nuns Jogos Olímpicos com Herdman a comandar. Em 2011, mudou-se para o Canadá, convencido pelo entusiasmo de juntar os cacos de uma seleção feminina que havia sido a pior equipa no Mundial desse ano. Um ano depois, o Canadá conquistou o bronze olímpico, proeza que repetiu em 2016. Estava outra vez entre as melhores seleções do futebol feminino, algo consolidado em 2020, desta vez com a medalha de ouro, mas já sem o grande obreiro da recuperação. É que em 2018, Herdman foi desafiado a fazer o mesmo, agora na seleção masculina.
Força multicultural
O impacto inicial não podia ter sido pior. No primeiro treino, dois futebolistas agrediram-se. A equipa, com jogadores nascidos na Sérvia, no Gana, nos Países Baixos, em Inglaterra, no Haiti, na Costa do Marfim ou nos EUA, e com raízes na Jamaica, em Portugal, na Argentina ou na Colômbia, era tudo menos isso. "Muitos nem se falavam", disse John Herdman ao "Yahoo Esportes". Mas outro milagre aconteceu. Outrora uma fraqueza, essa multiculturalidade, que também é reflexo do país, é hoje uma das forças do Canadá. Em 2019, apareceu a primeira vitória sobre os EUA desde 1990; em fevereiro desde ano, o Canadá subiu ao 33.º lugar do ranking da FIFA, o mais alto de sempre; agora, festeja o segundo apuramento para um Mundial, que se junta ao primeiro, em 1986. Em novembro, John Herdman será o primeiro a orientar seleções femininas e masculinas em Campeonatos do Mundo e fez por merecê-lo.