Claudio Morel fez carreira em grandes clubes e disputou Mundiais. Agora conduz 1000 quilómetros para alimentar a paixão pela bola.
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Todos os domingos, um jogador do Maderense levanta-se às cinco da manhã e não chega a casa antes da hora de jantar. Nesse intervalo, conduz quase mil quilómetros, almoça numa estação de serviço, joga futebol num campo onde se vê mais terra do que relva, chateia-se com os adversários, dá reprimendas aos colegas e tira fotografias com os habitantes de Francisco Madero, uma aldeia argentina onde vivem cerca de duas mil pessoas.
O protagonista desta história chama-se Claudio Morel e não é um qualquer na história do futebol sul--americano. Pode gabar-se de ter representado colossos da América do Sul e até tem uma presença em Campeonatos do Mundo para contar. Hoje, porém, só joga por amor ao futebol. Um amor tão desmedido que é capaz de fazer corar aqueles que, do alto da incompreensão, soltam um "é só futebol", mas também suscitam admiração aos que veem neste paraguaio um exemplo de tudo e mais alguma coisa.
Quando, em novembro de 2015, Martín Palermo desejou sorte ao Maderense, o amigo Claudio Morel estava longe de imaginar que o futuro o levaria até esse simpático clube das catacumbas de Bueno Aires. Mas ele, que passou por emblemas como Boca Juniors, San Lorenzo, Independiente ou Deportivo da Corunha, ele que ganhou competições continentais e ele que representou o Paraguai no Mundial de 2010, foi mesmo lá parar. "Estou aqui porque quero jogar, ganhar e ser campeão. O futebol põe-me louco", explicou ao "Clarín".
Por isso, aos 39 anos, e mesmo com tamanho currículo, Claudio Morel não se poupa a esforços. Há ocasiões em que vai acompanhado, por um colega de equipa ou pela família, mas a maior parte das vezes faz-se à estrada sozinho só para alimentar o amor pela bola. Todos os dias de jogo, é sempre o mesmo. Levanta-se ainda o sol não deu ares de si, conduz mais de 400 quilómetros, almoça no estabelecimento do treinador da equipa - que, por acaso, é uma área de serviço junto à estrada -, joga e faz a viagem de volta a casa. Feliz da vida.
À falta do ordenado, contenta-se com o carinho das pessoas de Francisco Medero e a admiração de treinador, colegas de equipa e até adversários. Não é o mesmo que ser campeão ou estar num Mundial, mas também não é mau de todo.