Há 27 anos, Domingos era um adolescente carregado de sonhos. Jogava na Académica de Leça e ganhou o prémio de se transferir para o F. C. Porto. A sua contratação foi avalizada por Costa Soares, treinador que foi um dos grandes conselheiros do técnico do Braga.
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O jogo grande da quarta jornada do campeonato, o apetecível F. C. Porto-Braga (depois de amanhã, 21.15 horas, TVI) tem um significado especial para Domingos Paciência. O técnico da equipa minhota projectou-se como jogador de qualidades reconhecidas ao serviço dos dragões, uma ligação que a história não apaga e até o destaca como um dos grandes ídolos dos adeptos.
Tudo começou no início da década de 80 do século passado, quando o então promissor futebolista tinha 13 anos e um mundo de sonhos a reluzir no olhar. Jogava na Académica de Leça e foi aconselhado aos responsáveis do F. C. Porto por Fernando Santos, treinador ligado ao clube de Matosinhos, e que também sugeriu a contratação do guarda-redes Vítor Baía.
"Fui observá-lo e foi uma contratação muito simples, porque tinha qualidades únicas. Foi dos elementos mais técnicos que já treinei. Era um artista", conta Costa Soares, o primeiro técnico de Domingos Paciência na casa dos dragões, uma espécie de segundo pai e que procurou ajudá-lo a superar um quadro familiar carregado de dificuldades: "Chegou a estar em minha casa com os meus filhos. Procurei influenciá-lo no seu crescimento como homem para que a sua qualidade futebolística não se perdesse. Mas o clube também teve um papel importante".
Já nos iniciados do F. C. Porto, Domingos Paciência distinguia-se dos colegas. Não era só pela técnica apurada ao alcance de muito poucos, mas pela personalidade de um adolescente recatado e que já tinha metas bem definidas para singrar no mundo do futebol: "Não era uma criança muito expansiva, era muito atento, calmo e sabia ouvir. Mesmo nessa altura, notava-se que queria ir mais além". E foi, de facto, ao ponto de garantir um lugar no coração dos adeptos, quando subiu à categoria sénior, pela mão do treinador Artur Jorge.
Um técnico que pode ir longe
Além de ter avalizado a contratação de Domingos Paciência e de ter sido o seu primeiro técnico no F. C. Porto, Costa Soares também foi seu professor no curso de treinador, quando o antigo avançado resolveu pendurar as chuteiras e traçar um novo rumo na carreira. "Muitos ex-jogadores famosos chegam às aulas pensando que são os melhores, mas ele não. Era muito inteligente, aplicado, atento e interessado. Colocava questões com qualidade. Por isso, a sua ascensão como treinador não me surpreende. É uma pessoa que quer aprender mais, continua a ser muito humilde e vai longe na profissão".
Costa Soares, 70 anos, está ligado ao F. C. Porto há quatro décadas e treinou os escalões de iniciados, juvenis e juniores do clube. Além de ter avalizado a contratação de Domingos Paciência e de Vítor Baía, "que eram quase como irmãos porque andavam sempre juntos", também esteve na génese da contratação de outros nomes que fizeram história nos dragões, entre eles Jorge Costa, Sérgio Conceição, Fernando Couto e Jorge Couto. Actualmente, faz parte do gabinete de prospecção do clube e irá ver o F. C. Porto-Braga com os olhos a brilhar...
