Treinadores ouvidos pelo JN acham que CR7 jogar menos é medida profilática, mas divergem na ideia de o capitão estar em fim de ciclo.
Corpo do artigo
Cristiano Ronaldo viveu uma situação pouco habitual, na estreia da seleção portuguesa na Liga das Nações, sendo suplente utilizado no empate (1-1) averbado em Sevilha com a Espanha, no arranque da fase de grupos da competição.
Aos 37 anos, o capitão da equipa das quinas, que tinha sido titular e atuado os 90 minutos nos últimos 15 jogos oficiais da seleção, jogou apenas a última meia hora (28 minutos) frente aos espanhóis.
A ausência do onze inicial foi justificada pelo selecionador Fernando Santos, que argumentou tratar-se de uma opção técnica, sem impedimento físico, fazendo ainda questão de dizer que a qualidade do capitão "não está em causa".
Ao JN, três treinadores portugueses de futebol dizem concordar com a opção de ter deixado Ronaldo no banco. O agendamento de quatro jogos em 11 dias mereceu críticas por parte de Fernando Santos e, acima de tudo, os colegas de profissão do selecionador português consideram que prevaleceu a questão da gestão física. Manuel Machado entende que o problema é geral e não deve apenas ser focado em CR7, sugerindo que a fragmentação da utilização vai continuar a pontuar a participação lusa na Liga das Nações. "Os jogadores chegam a esta fase da época muito sobrecarregados. Acho que ninguém vai fazer 90 minutos nos quatro jogos", faz notar.
Para Rui Almeida há vários jogadores capazes de render Ronaldo. "Ele esteve quase duas décadas ao mais alto nível, mas há mais gente de elevadíssima qualidade. Quem marcou [Ricardo Horta], nem tem ido à seleção", acentua.
Já Sérgio Vieira considera que a disponibilidade física de Ronaldo, aliada à própria idade, aconselham moderação na utilização. "A gestão de recursos é fundamental. É um jogador importante, mas, como é lógico, as coisas já não são iguais".
Ainda assim, os treinadores consideram "prematuro" dizer que Ronaldo está em final de ciclo. Com 115 golos (recorde mundial de seleções) em 187 jogos por Portugal, CR7 tem um trajeto difícil de repetir. "Está a fazer o caminho final e parece evidente que não haverá outro igual tão cedo", alvitra Rui Almeida. Sérgio Vieira diz que, mesmo que ele jogue menos "é possível que continue a ser útil a vários níveis". Já Manuel Machado acha que "ainda é cedo" para se falar no pós-Ronaldo.
O que dizem os treinadores
Rui Almeida
"É assunto por ser o Cristiano, que foi e é um jogador importante. São opções técnicas e há que saber gerir. A época está quase no fim e há vários jogos seguidos. Não sei se é o fim de um ciclo, mas haverá seleção quando ele sair".
Manuel Machado
"O quadro competitivo em poucos dias exige a rotatividade. No próximo jogo até pode ser titular, mas não deve jogar durante 90 minutos. Continua a ser um dos principais ativos da seleção e é cedo para se falar num novo ciclo".
Sérgio Vieira
"É fundamental fazer uma boa gestão física. Há dez anos isto era quase impossível, agora não surpreende. Ele continua a ser útil, mas a tendência será jogar menos. Não adianta jogar 90 minutos se não der a resposta que todos estão à espera".