"Os trabalhadores, os desempregados, os jovens não aguentam mais políticas restritivas, que atacam sempre os mesmos", disse João Proença. Ao lado, Carvalho da Silva insistia na mobilização de todos: estava marcada para 24 de Novembro a segunda greve geral do país.
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Só a lei do trabalho, ou as alterações pretendidas por Cavaco Silva, tinham juntado as duas centrais sindicais numa greve, em 1988. Mais de duas décadas depois, o cenário repete-se, também com Cavaco (agora na Presidência da República) a lutar por um acordo entre os dois principais partidos precisamente quanto ao pacote de medidas de austeridade contestado pelos sindicatos.
A 24 de Novembro já se saberá se houve ou não acordo quanto ao Orçamento de Estado para 2011, ou se a sua ausência terá ditado a queda do Governo. Em todo o caso, os dois sindicalistas negaram ter como objectivo derrubar Sócrates: "Essa questão nunca foi colocada", assegurou Carvalho da Silva. O que se pretende, defende João Proença, é mudar as políticas "profundamente injustas", que "só atingem as pessoas de mais baixos rendimentos". E questiona: "Houve alguma medida para as grandes fortunas ou a fuga de capitais para paraísos fiscais?".
Até o imposto sobre a Banca poderá ser subvertido. "É provável que a montanha vá parir um rato", disse Carvalho, com Proença a lembrar as "declarações infelizes" de Faria de Oliveira, presidente da CGD, que admitiu que serão os consumidores a pagar a factura.
Sob uma "pressão enorme" para baixar os salários, inclusive através da precariedade e do desemprego, e contra uma política que "não cria qualquer perspectiva de criação de emprego, crescimento que projecte o país", dizem os dirigentes, o que se pede é participação. "Enquanto não houver uma mobilização forte, forçando alternativas, não há soluções", disse Carvalho da Silva, realçando ser esse o maior "acto de responsabilidade" que se pode pedir aos trabalhadores. "Vai ser a mobilização da sociedade portuguesa que, mais cedo ou mais tarde, dará origem à mudança", acredita.