Prato do Dia: O Galito, em Carnide

Henrique Galito tem os seus dois filhos a trabalhar consigo no restaurante O Galito, em Carnide. Daniel na sala e nos vinhos, Leonardo na cozinha, formam com o pai a equipa imbatível. Representam, além disso, o bastião da autêntica cozinha alentejana em Lisboa, se não mesmo em Portugal.

As entradas configuram petiscos e à boa maneira alentejana, são muitas. Destaco as minhas favoritas, sendo que todas são muito apetecíveis. Os torresmos do rissol são maravilhosos. Trata-se do redenho frito, liberto da banha. Mas há mais, muito mais. As empadinhas de galinha devoram-se uma a seguir à outra, sem parar. Habituei-me a comer aqui a salada de coelho à São Cristóvão e agora não dispenso. Gosto muito de combinar queijo fresco de ovelha com a salada de pimentos assados, e combina muito bem. A cabeça de xara é a melhor da cidade. Os ovos com farinheira são exemplares. E a simplicidade desarmante da linguiça frita põe-me nas nuvens. O mestre Daniel tem sempre o vinho certo, confio-me ao seu bom gosto.

Na secção sopas e caldos de peixe, perco-me completamente, tudo apetece muito. A escolha é contudo curial, porque é impossível comer tudo na mesma empreitada. Destaco a incrível sopa de cação, feita sem véus nem disfarces e cheia de sabor. Também gosto muito da açorda de coentros, bacalhau e ovo escalfado e só não gosta quem nunca provou.

Os pratos clássicos de carne apresentam à cabeça maravilhosos pezinhos de porco de coentrada. Pode haver outros da nossa preferência, mas estes são absolutamente brilhantes. Colagénio ao rubro, chupamos os pequenos ossículos até ao fim. A cozinha produz iscas de porco com batata frita à Galito que só de ler abre o apetite. Se gosta de iscas, não vai querer dispensar. Adoro o lombo de porco grelhado com arroz de coentros. Também pode vir com batata frita, mas quero chamar a atenção para o genial arroz de coentros que o chef Leonardo prepara. Sabor bem marcado, textura divina.

As migas à alentejana com carne do alguidar são imperdíveis. A maceração das peças em massa de pimentão revelam a sua glória na fritura e levam-nos ao altar. Há costeletinhas de borrego grelhadas com arroz de coentros que aconselho vivamente. A cabidela de galinha do campo é viciante e brilhante, vai direta ao coração. E a perdiz de escabeche à Dona Gertrudes, mãe de Henrique e fundadora da casa, é a mais que justa homenagem a uma grande senhora, que nos deixou há pouco tempo. As sobremesas são exemplares. Nunca falho a sericaia. Sou fã do tecolameco. E gosto muito do fidalgo. Mas gosto mesmo é de aqui voltar.

O Galito
Rua Adelaide Cabete, 7, Lisboa
Tel. 217 111 088
Das 12h30 às 15h e das 19h30 às 23h. Fecha: Domingo
Preço médio: 40 euros